segunda-feira, maio 26, 2008

Celeiro de Portugal.

"Este sítio pobre não aprendeu nada com o passado salazarista e sempre que pode deixa cair a máscara moderna livre e democrática”.

O Mundo está em crise. O sítio não escapa obviamente a esta onda má, com os mercados instáveis, os preços dos bens alimentares a disparar, os combustíveis numa escalada galopante e muitas pessoas a sofrer na pele os efeitos de uma situação económica que nunca foi boa, apenas temporariamente razoável, e que agora resvala para uma agonia que atinge essencialmente os que vivem com pensões miseráveis, os desempregados, os jovens à procura do primeiro emprego e também muitos empregados que não conseguem pagar as despesas do dia-a-dia com os seus salários e começam a recorrer, muitos de forma envergonhada, à sopa dos pobres.

Muitas famílias, por outro lado, estão verdadeiramente desesperadas para pagar os empréstimos que fizeram para comprar a casa e o automóvel. A classe média já deixou de o ser há muito e juntou-se à imensa legião de pessoas no limiar da pobreza ou mesmo dos pobres e dos que começam a ter fome.

Os números são impressionantes. Dois milhões de cidadãos em risco de pobreza, dos quais 24 por cento são crianças, o crédito malparado nunca foi tão alto e multiplicam-se as penhoras de bancos e do fisco. Perante este quadro negro de um sítio que nunca passou do cinzento, é interessante ver como reagem os políticos, agentes económicos e organizações sindicais. Interessante, mas nada que surpreenda verdadeiramente.

Os apelos ao Estado, ao Governo para intervir na economia, no mercado, nos preços, na produção agrícola, nos lucros das empresas e até nos ordenados dos gestores privados multiplicam--se da esquerda à direita. Este sítio pobre, cada vez mais pobre, desesperado, impotente e cada vez mais mal frequentado não aprendeu nada com o passado salazarista e salazarento e sempre que pode deixa cair a máscara moderna, livre e democrática para tentar regressar ao pior dos intervencionismos, aos planos quinquenais, ao condicionamento comercial e industrial, aos cabazes de compras, ao velho celeiro de Portugal, ao vinho tinto que dava de comer a um milhão de portugueses.

A fome, o desemprego, os salários miseráveis, o endividamento das famílias e o paupérrimo crescimento económico não se resolvem com as velhas receitas salazarentas. Resolvem-se com o Estado fora da economia, fora dos negócios, mais pequeno e mais forte ao serviço dos mais pobres. Resolvem-se com o fim do Estado insaciável, monstruoso, que asfixia a economia e liquida os cidadãos
."

António Ribeiro Ferreira

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