sábado, maio 10, 2008

Citânia de Briteiros


A citânia de Briteiros é um sítio arqueológico da Idade do Ferro, situado no alto do monte de São Romão, na freguesia de Salvador de Briteiros, concelho de Guimarães (a cerca de 15 km de distância a Noroeste desta cidade). Fica também perto dos santuários do Sameiro e do Bom Jesus de Braga. É uma citânia com as características gerais da cultura dos castros do noroeste da Península Ibérica.

As ruínas foram descobertas pelo arqueólogo Martins Sarmento em 1875. Consiste, basicamente, nos restos de uma povoação, com traços culturais celtas, murada. Existem, na realidade, três muralhas, com dois metros de largura, em média, e cinco metros de altura. A citânia situa-se num alto, tal como acontece com muitos castros.

A influência da romanização naquele povoado, no século I a.C., é evidenciada em numerosos vestígios, tais como inscrições latinas, moedas da República, do Império, fragmentos de cerâmica importada (terra de sigillata), vidros, etc. Revela-se nesta cultura traços da influência indígena no dispositivo topográfico da povoação, no traçado das muralhas, na planta circular das casas, no processo da sua construção e na decoração com motivos geométricos.

Um dos monumentos pré-romanos mais curiosos é um balneário, constando de uma pequena câmara redonda ligada a um recinto quadrangular. Os dois compartimentos eram divididos por uma estela de forma pentagonal, com uma pequena abertura no fundo para se poder passar de um para o outro. Uma das câmaras servia para se tomarem banhos de vapor, a outra para se tomarem banhos de água fria. Durante algum tempo, pensou-se que este balneário fosse um edifício de carácter funerário.

Outros monumentos do mesmo carácter têm sido identificados em diversos castros da região asturo-galaico portuguesa em Barcelos, na citânia de Sanfins. Como testemunho do primitivismo das origens da citânia de Briteiros existem os achados de instrumento de pedra eneolíticos ou de bronze inicial. Por outro lado, as «mamoas» nas vizinhanças da citânia e as gravuras rupestres nas encostas dos montes próximos mostram a existência de uma cultura autóctone anterior à romana. Esta citânia deva ter sido definitivamente abandonada no século III.

Interpretações recentes permitem atribuir à Citânia de Briteiros o papel de capital política dos Callaeci Bracari no início do século I. d.C., onde se reuniria o respectivo "consilium gentis" na grande casa circular de bancos adossados às paredes.

Está classificada pelo IPPAR como Monumento Nacional desde 1910

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

AS MOURAS ENCANTADAS


A tradição popular refere, amiúde, a existência de mouras, em menções de várias lendas. Os factos são complexos e baralhados. Vamos dividi-los em dois grupos, para melhor os estudar. Assim, temos:

1 — Mouras encantadas. São seres, diz Leite de Vasconcelos, dotados de força sobrenatural, que vivem em certos locais, como se estivessem adormecidos, enquanto certas circunstancias não lhes quebrar o encanto. Estes locais são, normalmente, poços, fontes, cisternas, montanhas e ruínas. Por vezes têm um aspecto sedutor e apresentam-se aos viajantes que passam pelos seus domínios, convidando-os a passarem no dia seguinte, com alusões a objectos preciosos que guardam e propostas diversas. A crença popular acredita na possibilidade de se transformarem em serpentes. Martinho de Dume, o evangelizador do Minho (Séc. VI), designava as mouras da época (lamias) como mulheres-demónios expulsos do céu!

Diz ainda a opinião popular que estas mouras se encontram nesses locais a guardar tesouros deixados pelos mouros, até que alguém os possa descobrir.

2 — Mouras fiandeiras. Estão associadas às construções dos antigos monumentos porque, acredita-se, enquanto acarretavam as pedras à cabeça iam a fiar com uma roca à cinta. E até se dizia em tempos, lá para os lados da Citânia de Briteiros, que se via de vez em quando uma moura a fiar enquanto pastoreava o gado.

A santificação e o culto das águas tinha para os antigos lusitanos uma grande importância. Não diminuiu na época lusitano-romana e em muitos casos mantém-se ainda.

Tudo indica, no entanto, que as histórias das mouras — encantadas ou fiandeiras — tenham origem muito anterior à presença dos mouros no país. Sabe-se que, no primeiro século da nossa era, tinham “sido vistos” à beira mar, perto de Lisboa, um tritão, com o seu búzio, e diversas nereides.

O tritão (sereia-macho) é um símbolo mitológico-cabalístico com origem na lenda de Perséfone e que significa que “alma sobrevive ao corpo” . Foi complexa a evolução da sua imagem. Entre os Gregos tem forma alada. Depois tomou a forma de mulher, com as pernas em forma de peixe.

É assim que aparece nas pinturas e esculturas nas igrejas. Com o tronco masculino e cara barbada surge nos documentos náuticos dos séc. XV e XVI e em alguns monumentos, como os de Conínbriga.

Não admira que em Lisboa se encontrem facilmente restos dessas crenças, sendo uma cidade tão antiga. Ainda hoje há um sítio, nesta cidade, chamado Cova da Moura.

De facto, na região existem muitas covas, lapas e grutas, que tiveram serventias diversas. Da cova da Moura não resta o menor vestígio, estando o sítio ocupado pelo casario.

A relação das mouras com o elemento líquido é evidente. E a água tem até uma grande importância em qualquer cerimónia religiosa. É um importante símbolo, que se relaciona com a vida, com as origens, com o renascimento e a regeneração.

Na crença popular há também, ainda hoje a convicção da existência de “águas mortas” (a que está fora de casa, à meia-noite) e de “águas vivas” (as que brotam da terra e têm prestígio sagrado.

As águas mortas podem ser vivificadas com uma fórmula que todas as crianças conheciam . Todavia, na manhã de S. João, todas as águas são consideradas sagradas, porque são fecundadas, nesse dia, pelo Sol. E daí a existência dos banhos santos no dia de S. João, como é hábito, por exemplo, na praia de S. Bartolomeu do Mar (Esposende) .

Ficámos a saber que as mouras são seres sobrenaturais, normalmente associadas às águas, e que a sua existência é assinalada muito antes das invasões dos árabes. E são, pelo menos em parte, as herdeiras das tradições culturais greco-latinas.

Na Idade Média, muitas pessoas ainda tinha restos de clarividência negativa e viam seres chamados elementais, cuja função estava associada às forças que designamos por leis da Natureza.

As ondinas e as ninfas eram os espíritos sub-humanos que habitavam nos rios e nas correntes de água. Além disso, as mouras também estão associadas às Parcas , que eram divindades que presidiam ao nascimento e depois ao casamento e à morte. Eram as “fiandeiras da vida e da morte”. Uma segura o fuso e puxa o fio da vida (o cordão prateado); a segunda enrola-o, registando o “filme” da vida e a base da existência futura e determina o momento da morte; e a terceira corta inflexivelmente esse fio. Na arte, as três parcas foram associadas às “três graças”.

Compreenderemos melhor, agora, este assunto, se nos lembrarmos que a palavra moura não deve ser considerada o feminino de mouro, mas um sinónimo de moira, palavra grega que significa “destino”, como se pode ver em Horácio .

O conceito popular de Moira atribui à fatalidade qualquer série de coincidências à primeira vista inexplicáveis e, sobretudo, as mais infelizes. Os mais conhecedores relacionam a Moira com a justiça e a providência, quer dizer, com a cadeia de causas ou série de causas, que determinam um efeito (lei de causa e efeito).

E falam, por isso, em moira maléfica e moira benéfica relacionando-as com divindades ctónicas, que são seres sobrenaturais que habitam as cavidades da terra.


Notas

1. Encyclopédia Portuguesa Illustrada, Porto, 1901.
2. Aguinha, aguinha, não faças mal à minha barriguinha, nem de dia nem à hora do meio-dia, etc.
3. Aos quais se atribuem efeitos terapêuticos; por exemplo, às crianças que têm “medos”.
Parca, e sobretudo no plural >ii<, provém ao que tudo indica, do verbo parere, presente pario, “gerar, dar à luz, pôr no mundo”. Segundo Ernout-Meillet, a noção de “pôr no mundo” tem uma acepção social e jurídica, não física. Isto é, está associada à ideia da lei de causa e efeito. O significado geral de parens, -ntis, que se aplica tanto ao pai como à mãe, mostra que o sentido inicial de parere não era o “parto através da mãe”, mas o de “produzir” (acções e reacções”, como o grego (tekein). As Parcas eram, pois, em princípio, a representação da cadeia de causas que provocam certos acontecimentos e, designadamente, “produziam, provocavam o nascimento” e, depois, também, “o casamento e a morte”.

Odes, 2,16,37-40.





Bibliografia





Brandão, Junito — Dicionário Mítico-Etimológico, Petrópolis, 1993; Espírito-Santo, Moisés — A Religião Popular Portuguesa, Lisboa, s/d; Freire, António — O Conceito de Moira na Tragédia Grega, 1969; Heindel, Max — Os Espíritos e as Forças da Natureza, Lisboa, 1983; Vasconcelos, J. Leite de — Religiões da Lusitânia, vol III, Lisboa 1913; Opúsculos, vol. V, parte I, Lisboa 1938

domingo, maio 11, 2008  

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