Nacionalização, já !
Se o mercado não consegue disciplinar os preços, os lucros nem o selvático prendar dos recursos empresariais com os vencimentos multimilionários dos executivos, então por que não nacionalizar os petróleos e tentar outros modelos? Quem proferiu este revolucionário comentário foi Maxine Waters, Democrata da Califórnia, durante o inquérito conduzido pelo Congresso, em Washington, às cinco maiores petrolíferas americanas. Face à escalada socialmente suicidária dos preços dos combustíveis, o órgão legislativo americano convocou os presidentes para saber que lucros tinham tido e que rendimentos é que pessoalmente cada um deles auferia. Os números revelados deixaram os senadores da Comissão de Energia e Comércio boquiabertos. Desde os 40 mil milhões de dólares de lucro da Exxon no ano passado, ao milhão de euros mensais do ordenado base do chefe Executivo da Conoco-Phillips, às cifras igualmente astronómicas da Chevron, da Shell e da BP América. Esta constatação do falhanço calamitoso do mecanismo comercial, quando encarada no caso português, ainda é mais gritante. Digam o que disserem, o que se está a passar aqui nada tem a ver com as leis de oferta e procura e tem tudo a ver com a ausência de mercado onde esses princípios pudessem funcionar.
Se na América há cinco grandes empresas que ainda forçam o mercado a ter preços diferentes, em Portugal há uma única que compra, refina, distribui e vende. É altura de fazer a pergunta de Maxine Waters, traduzindo-a para português corrente
- Se o país nada ganhou com a privatização da Galp e se estamos a ser destruídos como nação pela desalmada política de preços que a única refinadora nacional pratica, porquê insistir neste modelo? Enunciemos a mesma pergunta noutros termos
- Quem é que tem vindo sistematicamente a ganhar nestes nove anos de privatização da Galp, que alienaram um bem que já foi exclusivamente público? Os espanhóis da Iberdrola, os italianos da ENI e os parceiros da Amorim Energia certamente que sim. O consumidor português garantidamente que não. Perdeu ontem, perde hoje e vai perder mais amanhã. Mas levemos a questão mais longe houve algum ganho de eficiência ou produtividade real que se reflectisse no bem-estar nacional com esta alienação da petrolífera? A resposta é angustiantemente negativa. A dívida pública ainda lá está, maior do que nunca, e o preço dos combustíveis em Portugal é, de facto, o pior da Europa. Nesta fase já não interessa questionar se o que estamos a pagar em excesso na bomba se deve ao que os executivos da Galp ganham, ou se compram mal o petróleo que refinam ou se estão a distribuir dividendos a prestamistas que exigem aos executivos o seu constante "quinhão de carne" à custa do que já falta em casa de muitos portugueses. Nesta fase, é um desígnio nacional exigir ao Governo que as centenas de milhões de lucros declarados pela Galp Energia entrem na formação de preços ao consumidor. Se o modelo falhou, por que não nacionalizar como sugeriu a congressista Waters? Aqui nacionalizar não seria uma atitude ideológica.
Seria, antes, um recurso de sobrevivência, porque é um absurdo viver nesta ilusão de que temos um mercado aberto com um único fornecedor. Se o Governo de Sócrates insiste agora num purismo incongruente para o Serviço Nacional Saúde, correndo com os existentes players privados e bloqueando a entrada de novos agentes, por que é que mantém este anacronismo bizarro na distribuição de um bem que é tão essencial como o pão ou a água? Como alguém já disse, o melhor negócio do Mundo é uma petrolífera bem gerida, o segundo melhor é uma petrolífera mal gerida. Na verdade, o negócio dos petróleos em Portugal, pelas cotações, continua a ser bom. Só que o país está exangue. Há fome em Portugal e vai haver mais. O negócio, esse, vai de vento em popa para o Conselho de Administração da Galp, para os accionistas, para Hugo Chávez e José Eduardo dos Santos. Mas para mais ninguém. A maioria de nós vive demasiado longe da fronteira espanhola para se poder ir lá abastecer.
Mário Crespo
Se na América há cinco grandes empresas que ainda forçam o mercado a ter preços diferentes, em Portugal há uma única que compra, refina, distribui e vende. É altura de fazer a pergunta de Maxine Waters, traduzindo-a para português corrente
- Se o país nada ganhou com a privatização da Galp e se estamos a ser destruídos como nação pela desalmada política de preços que a única refinadora nacional pratica, porquê insistir neste modelo? Enunciemos a mesma pergunta noutros termos
- Quem é que tem vindo sistematicamente a ganhar nestes nove anos de privatização da Galp, que alienaram um bem que já foi exclusivamente público? Os espanhóis da Iberdrola, os italianos da ENI e os parceiros da Amorim Energia certamente que sim. O consumidor português garantidamente que não. Perdeu ontem, perde hoje e vai perder mais amanhã. Mas levemos a questão mais longe houve algum ganho de eficiência ou produtividade real que se reflectisse no bem-estar nacional com esta alienação da petrolífera? A resposta é angustiantemente negativa. A dívida pública ainda lá está, maior do que nunca, e o preço dos combustíveis em Portugal é, de facto, o pior da Europa. Nesta fase já não interessa questionar se o que estamos a pagar em excesso na bomba se deve ao que os executivos da Galp ganham, ou se compram mal o petróleo que refinam ou se estão a distribuir dividendos a prestamistas que exigem aos executivos o seu constante "quinhão de carne" à custa do que já falta em casa de muitos portugueses. Nesta fase, é um desígnio nacional exigir ao Governo que as centenas de milhões de lucros declarados pela Galp Energia entrem na formação de preços ao consumidor. Se o modelo falhou, por que não nacionalizar como sugeriu a congressista Waters? Aqui nacionalizar não seria uma atitude ideológica.
Seria, antes, um recurso de sobrevivência, porque é um absurdo viver nesta ilusão de que temos um mercado aberto com um único fornecedor. Se o Governo de Sócrates insiste agora num purismo incongruente para o Serviço Nacional Saúde, correndo com os existentes players privados e bloqueando a entrada de novos agentes, por que é que mantém este anacronismo bizarro na distribuição de um bem que é tão essencial como o pão ou a água? Como alguém já disse, o melhor negócio do Mundo é uma petrolífera bem gerida, o segundo melhor é uma petrolífera mal gerida. Na verdade, o negócio dos petróleos em Portugal, pelas cotações, continua a ser bom. Só que o país está exangue. Há fome em Portugal e vai haver mais. O negócio, esse, vai de vento em popa para o Conselho de Administração da Galp, para os accionistas, para Hugo Chávez e José Eduardo dos Santos. Mas para mais ninguém. A maioria de nós vive demasiado longe da fronteira espanhola para se poder ir lá abastecer.
Mário Crespo
3 Comments:
Concordo com todos os pressupostos.
O facto novo é que se pede a nacionalização por motivos diferentes dos motivos que levaram às nacionalizações de há anos a nível mundial.
O princípio é a sobrevivência daquilo que escrevo no artigo anterior: o Estado Nação que o clube Bilderberg e a Trilateral, ou seja o governo mundial, querem destruir, através das filosofias do neoliberalismo selvagem e das organizações supranacionais.
Em Portugal, a Galp, pertence apenas se não estou em erro cerca de 6 ou 7 % e hoje assisti áo sorriso escarninho de deputados do PS sobre quando se falavam dos lucros escandalosos desta companhia e de como um deputado, hoje já não deputado, Pina Moura, pode eventualmente ter usado os cargo para servir os interesses dos patrões.
Infelizmente não é só ele que tem patrões, meus caros, como digo a democracia é uma falácia e os eleitos falaciosos e não servem o Estado porque o estado morreu.
Como é possível que o SR Cavaco possa dizer que os mercados estão a funcionar?
O homem esqueceu-se que é presidente da República e não professor de economia, ainda por cima apenas conhecedor, mau conhecedor dos mercados, ou pior se os conhece toma partido pela sua completa desregulação e acredita, pior ainda que são autoreguláveis, mais uma falácia inventada pelos defensores do neoliberalismo e dos Consensos de Washington que destruiram estados estáveis por esse mundo novo.
Isto não é direita nem esquerda,porque esse conceito não tem sentido, isso é linguagem de dispersão e conversa para enganar incautos.
Parabéns ao Tigre por postar este artigo.
Lembrem-se do Banco nacionalizado na GB, se argumentarem contra...
NACIONALIZAÇÃO JÁ
---» Em oposição aos lucros escandalosos dos especuladores, com uma gestão pública adequada, será possível que as refinarias dêem LUCRO (sim lucro!)... mesmo que... exista uma redução substancial no preço da gasolina!
DE FACTO:
Em 2002 um barril de petróleo custava 70 dólares , o que equivalia, grosso modo, a 77 Euros; hoje ele custa (cerca de) 120 dólares - o que equivale, sensivelmente, a 77 Euros!
No entanto, se compararmos o preço da gasolina em 2002... com o preço da gasolina de hoje...
MAIS:
---» Não são só os consumidores que andam a ser comidos por PARVOS pelos manhosos dos especuladores... os produtores também andam a ser comidos PARVOS!
---» Veja-se este exemplo: com o fim da EPAC (empresa pública de abastecimento de cereais) o preço dos cereais (trigo, centeio, etc) passou a baixar na altura das colheitas!!!... (nota: depois dos cereais estarem na mão dos especuladores... o preço volta a subir...)
CONCLUINDO:
---» Toda a gente sabe que existe muito 'boa gente' que se infiltra nos governos (e nas empresas públicas)... com o objectivo de realizar negociatas para amigos.
---» Os infiltrados são difíceis de controlar... no entanto... a sociedade civil pode (e deve) controlar as negociatas!
---» Ora, o conceito «Projecto de Interesse Nacional» não pode servir apenas para que amigos... tenham acesso a áreas protegidas (vulgo reservas naturais)!
---» Isto é, COMBATER A ROUBALHEIRA deve ser considerado um Projecto de Interesse Nacional!
---» O terror dos manhosos dos especuladores é o seguinte: combater a roubalheira... com lucro! Ou seja: empresas públicas a funcionar com preços moderados... e com LUCRO! (leia-se, NACIONALIZAÇÃO de empresas estratégicas para o país)
RESUMINDO:
---» O combate contra os especuladores deve ser feito, não através de acções conjunturais (um exemplo: a manifestação corporativa dos pescadores...), mas sim, através de acções estruturais; um exemplo: a sociedade civil não pode permitir que os bens de primeira necessidade (leia-se, empresas estratégicas para o país) fiquem à mercê de especuladores... consequentemente... as refinarias devem ser NACIONALIZADAS!
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