Eriksson III

"Quinze anos depois de ter deixado o Benfica rumo ao futebol italiano, Eriksson parece estar de regresso ao clube encarnado, não ao velho Estádio da Luz que acolheu muitos e bons jogadores e viveu momentos de grande exaltação clubística, mas a uma nova Luz, infelizmente para o futebol português bem menos intensa, muito próxima do lusco-fusco. Eriksson tomou contacto com a extraordinária dimensão do Benfica há um quarto de século, era ele um jovem e promissor treinador de futebol com 35 anos de idade.

Dir-se-á que Eriksson projecta, hoje, o valor experiência, “menos sueco”, mais universal. Pelo meio, construiu efectivamente a sua carreira e, nos últimos tempos, não encontrou porventura nem a motivação nem as condições ideais para prolongar a sua imagem de treinador de sucesso.

Interessante verificar que Eriksson regressa ao Benfica depois de alcançar a sua realização profissional plena, basicamente em Itália, na senda do que aconteceu com Rui Costa, “apanhado”, em Manchester, a fugir da sua condição de jogador de futebol e do seu não assumido estatuto de director desportivo (afinal) em plena actividade.

Numa “operação-relâmpago”, Filipe Vieira, Rui Costa e Paulo Gonçalves estiveram, ontem, em Manchester, claramente com o objectivo de assegurar uma solução para ser anunciada logo após o Benfica-V. Setúbal, tentando com isso quebrar o efeito de uma época desastrada e criar uma nova e imediata expectativa.

A “solução-Eriksson” enquadra-se na lógica do regime vieirista: jogar com os nomes e com uma certa ideia de mística. É um erro. O Benfica não se renova regressando às fórmulas do passado ou recriando cenários que se “teletransportem”, nestes tempos de “ditadura da imagem”.

Filipe Vieira aposta numa solução de matriz populista, não estruturante e reformista. Eriksson não vem, seguramente, mexer nos pilares da organização desportiva do Benfica, o que permitirá a Rui Costa achar o seu espaço de intervenção. O Benfica ganha em imagem – maquilhando-a com a boa postura de Eriksson – mas não retira a excessiva responsabilidade colocada nos ombros de Rui Costa."

RUI SANTOS