Parabéns, Israel
"É necessário entender de uma vez por todas que o Holocausto foi um crime cometido pela Europa contra a Europa.
Simone Veil, uma francesa liberal, antiga ministra e antiga presidente do Parlamento Europeu, publicou este ano as suas memórias. O livro conta como uma família francesa da classe média, com um quotidiano feliz e pacífico, igual ao que a maioria das pessoas aspira, conheceu um destino trágico apenas por causa da sua identidade judaica. Não cometeram qualquer crime, eram simplesmente judeus. Um dia, tinham uma vida normal, os pais a trabalhar e os filhos na escola, e no dia seguinte estavam a caminho de campos de concentração. Quando acabou a guerra, Simone Veil estava, com a mãe e duas irmãs, em Auschewitz. A mãe não sobreviveu, e o pai e o irmão nunca apareceram depois de terem sido deportados para um campo de concentração na zona do Báltico.
O que aconteceu com a família de Simone Veil, aconteceu com milhões de famílias europeias, só por serem judias. E não foi apenas um problema de algumas mentes diabólicas, ou de um regime político perverso. Muitos milhões de europeus participaram no Holocausto, e muitos mais durante anos nada fizeram para o travar. Como resultado, cidadãos tão europeus como todos os outros europeus perceberam que para viver em segurança teriam que abandonar a Europa. E é fundamental sublinhar que todas as pessoas presas e mortas nos campos de concentração eram europeias, não eram simplesmente judeus. É necessário entender de uma vez por todas que o Holocausto foi um crime cometido pela Europa contra a Europa.
Os europeus sem pátria na Europa foram construir o seu Estado no Médio Oriente. Israel nasceu no dia 8 de Maio de 1948 e na passada quinta-feira celebrou sessenta anos de vida. Tem sido, como sabemos, uma vida bastante atribulada. Cinco guerras com os seus vizinhos, ocupação de territórios, refugiados, ataques terroristas, mortes de civis inocentes, tudo isto faz parte da história de Israel. E sei muito bem que Israel não é inocente. Mas para Israel perder a inocência foi necessário que muitos outros a perdessem muito antes. Durante os últimos sessenta anos, muitos dos países europeus de cujos territórios os futuros israelitas foram obrigados a fugir viveram em paz e em segurança. Ou seja, os judeus israelitas não só tiveram que abandonar a Europa para viver em segurança, mas depois foram obrigados a fazer guerras para terem o seu Estado. A paz foi-lhes negada duas vezes.
E a expressão “obrigados a fazerem guerras” é inteiramente apropriada. Ao contrário do que alguma propaganda anti-israelita nos diz, Israel não teve durante muito tempo, pelo menos durante os primeiros quarenta anos de vida, nenhuma estratégia expansionista. Nas três primeiras guerras, foi atacado e obrigado a defender-se. Em 1948, apesar de ter sido criado por uma Resolução das Nações Unidas, apoiada pelos dois lados da Guerra Fria, foi atacado por quatro países vizinhos, após os respectivos governos terem garantido que iriam expulsar “todos os judeus da Palestina”. E aqueles que acham que os problemas começaram com a chegada dos europeus (judeus) à Palestina, devem dar um passo atrás na História e perguntar por que razão é que chegaram. A resposta é simples: porque não puderam viver seguros na Europa.
Tratando de questões diferentes, um professor norte-americano, Joseph Weiler, defende que a Europa deve entender a natureza da distinção entre valores e virtudes. Não chega defender os valores se depois não se praticar as virtudes políticas correspondentes. O cumprimento das obrigações que o passado nos impõe é uma virtude à qual não se pode fugir. Os europeus estabeleceram, após 1945, um contrato político refundador da Europa: um contrato que faz da paz, e não da guerra, da liberdade, e não do totalitarismo, os pilares das nossas sociedades. Nem todos os europeus puderam assinar esse contrato. Uns porque viviam em ditaduras; outros porque foram obrigados a abandonar a Europa. Os alargamentos da União, as maiores virtudes europeias das últimas décadas, corrigiram uma das injustiças históricas, expandindo o contrato da paz e da liberdade. A outra injustiça só poderá ser corrigida se os europeus perceberem que a segurança e a liberdade de Israel são problemas europeus. Como afirmou recentemente um dos políticos europeus que melhor entende o conceito de virtude, a chanceler alemã Angela Merkel. E como diz Simone Veil nas suas memórias."
João Marques de Almeida
Simone Veil, uma francesa liberal, antiga ministra e antiga presidente do Parlamento Europeu, publicou este ano as suas memórias. O livro conta como uma família francesa da classe média, com um quotidiano feliz e pacífico, igual ao que a maioria das pessoas aspira, conheceu um destino trágico apenas por causa da sua identidade judaica. Não cometeram qualquer crime, eram simplesmente judeus. Um dia, tinham uma vida normal, os pais a trabalhar e os filhos na escola, e no dia seguinte estavam a caminho de campos de concentração. Quando acabou a guerra, Simone Veil estava, com a mãe e duas irmãs, em Auschewitz. A mãe não sobreviveu, e o pai e o irmão nunca apareceram depois de terem sido deportados para um campo de concentração na zona do Báltico.
O que aconteceu com a família de Simone Veil, aconteceu com milhões de famílias europeias, só por serem judias. E não foi apenas um problema de algumas mentes diabólicas, ou de um regime político perverso. Muitos milhões de europeus participaram no Holocausto, e muitos mais durante anos nada fizeram para o travar. Como resultado, cidadãos tão europeus como todos os outros europeus perceberam que para viver em segurança teriam que abandonar a Europa. E é fundamental sublinhar que todas as pessoas presas e mortas nos campos de concentração eram europeias, não eram simplesmente judeus. É necessário entender de uma vez por todas que o Holocausto foi um crime cometido pela Europa contra a Europa.
Os europeus sem pátria na Europa foram construir o seu Estado no Médio Oriente. Israel nasceu no dia 8 de Maio de 1948 e na passada quinta-feira celebrou sessenta anos de vida. Tem sido, como sabemos, uma vida bastante atribulada. Cinco guerras com os seus vizinhos, ocupação de territórios, refugiados, ataques terroristas, mortes de civis inocentes, tudo isto faz parte da história de Israel. E sei muito bem que Israel não é inocente. Mas para Israel perder a inocência foi necessário que muitos outros a perdessem muito antes. Durante os últimos sessenta anos, muitos dos países europeus de cujos territórios os futuros israelitas foram obrigados a fugir viveram em paz e em segurança. Ou seja, os judeus israelitas não só tiveram que abandonar a Europa para viver em segurança, mas depois foram obrigados a fazer guerras para terem o seu Estado. A paz foi-lhes negada duas vezes.
E a expressão “obrigados a fazerem guerras” é inteiramente apropriada. Ao contrário do que alguma propaganda anti-israelita nos diz, Israel não teve durante muito tempo, pelo menos durante os primeiros quarenta anos de vida, nenhuma estratégia expansionista. Nas três primeiras guerras, foi atacado e obrigado a defender-se. Em 1948, apesar de ter sido criado por uma Resolução das Nações Unidas, apoiada pelos dois lados da Guerra Fria, foi atacado por quatro países vizinhos, após os respectivos governos terem garantido que iriam expulsar “todos os judeus da Palestina”. E aqueles que acham que os problemas começaram com a chegada dos europeus (judeus) à Palestina, devem dar um passo atrás na História e perguntar por que razão é que chegaram. A resposta é simples: porque não puderam viver seguros na Europa.
Tratando de questões diferentes, um professor norte-americano, Joseph Weiler, defende que a Europa deve entender a natureza da distinção entre valores e virtudes. Não chega defender os valores se depois não se praticar as virtudes políticas correspondentes. O cumprimento das obrigações que o passado nos impõe é uma virtude à qual não se pode fugir. Os europeus estabeleceram, após 1945, um contrato político refundador da Europa: um contrato que faz da paz, e não da guerra, da liberdade, e não do totalitarismo, os pilares das nossas sociedades. Nem todos os europeus puderam assinar esse contrato. Uns porque viviam em ditaduras; outros porque foram obrigados a abandonar a Europa. Os alargamentos da União, as maiores virtudes europeias das últimas décadas, corrigiram uma das injustiças históricas, expandindo o contrato da paz e da liberdade. A outra injustiça só poderá ser corrigida se os europeus perceberem que a segurança e a liberdade de Israel são problemas europeus. Como afirmou recentemente um dos políticos europeus que melhor entende o conceito de virtude, a chanceler alemã Angela Merkel. E como diz Simone Veil nas suas memórias."
João Marques de Almeida
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