sábado, maio 31, 2008

PS/PSD - Amor em tempo de guerra.

"Quando Sócrates reage e governa em função da conjuntura e do calendário eleitoral, a sua política não se distingue da cosmética e da propaganda.

Quando Mário Soares espirra, o PS de Sócrates constipa-se. Há uma certa ironia quando Mário Soares, que colocou o “socialismo na gaveta”, acusa o Governo de não ser socialista. Habilidades da política portuguesa. E quando as bandeiras negras aparecem Portugal fora, Sócrates nega responsabilidades e apresenta a pesada herança do PSD. No mínimo, é um argumento fácil, populista e adolescente.

O primeiro-ministro utiliza uma conjuntura de crise internacional para esconder os problemas estruturais do País. A questão não está no choque petrolífero, mas na persistente tendência que Portugal apresenta para o crescimento da pobreza e da desigualdade. Por outro lado, pelo menos desde o século XIX, Portugal revela-se incapaz de acompanhar o ritmo de crescimento da Europa – o atraso do País resulta de uma inacção que se transformou em característica nacional. Quando Sócrates reage e governa em função da conjuntura e do calendário eleitoral, a sua política não se distingue da cosmética e da propaganda.

Quanto à questão da igualdade, ou a velha paixão do socialismo, sobra apenas o velho mito da sensibilidade social da Esquerda. E resta ainda o reflexo ideológico que a pouco e pouco vai caindo para revelar o verdadeiro rosto de uma Esquerda perdida no mundo pós-socialista. A geração de Sócrates não procura a igualdade, mas pratica uma hipocrisia residual elevada à condição de política pública. Visto e revisto, talvez já não existam socialistas - morreram soterrados nas ruínas do século XX.

Quanto ao PSD, o panorama está longe de entusiasmar o País. Manuela Ferreira Leite, ou a candidata “conservadora”, apresenta-se pela Esquerda com a ênfase na “nova pobreza” e na “sensibilidade social”. No caso de Pedro Passos Coelho, se a forma parece nova, o estilo permanece velho. Quanto a Santana Lopes, é o eterno masculino numa corrida sem fim. Finalmente, o debate ideológico foi pobre e incipiente, confuso e escolar, onde a real dimensão política fez cerimónia e primou pela ausência. Se nada mudar, tudo permanecerá na mesma.

A questão que o Governo do PS e os candidatos à liderança do PSD deveriam responder é a seguinte – porque razão Portugal vive no pior de dois mundos, sem a riqueza de um Estado liberal e com os encargos de um Estado social. O que falta no debate é simplesmente a política. Ou seja, um conjunto de políticas ao serviço de uma estratégia e com um objectivo para além do imediato. No prazo de 10 anos, que perfil para Portugal na Europa
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Carlos Marques de Almeida

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Aqui há umas sextas-feiras atrás, no telejornal da TVI, num raro momento de televisão a sério, um senhor que dá pelo nome de Medina Carreira e que, por sinal, até já foi ministro das finanças teve a coragem de chamar os bois pelos nomes de uma forma tão clara e objectiva que até a Manelinha, que é uma radical, corou de tanta verdade dita em tão pouco tempo. Sinceramente, fiquei à espera que no dia seguinte a imprensa falada e escrita deste pântano viesse dar eco ou vituperar essas palavras incómodas pelo menos para abanar os capacetes desta gente, tentar acordar os adormecidos e os outros que, julgando-se mais esclarecidos, ainda se encontram "nesse enlevo de alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito". Mas não! Nada disso! Ouvi falar de uns patarecos que fumaram num avião, ouvi falar da selecção nacional, ouvi falar do apito final e do outro apito, ouvi falar de um tal Pinto da Costa mai-los seus bobbys e seus tarecos, ouvi falar de tudo menos daquilo que realmente interessa ao país. Pronto, pelo menos deu para perceber que está tudo controlado, que não há voz incómoda que possa incomodar esses senhores que fumam e que não fumam, porque a teia está eficientemente montada e testada. Não haverá por aí um qualquer diluente que ajude a dissolver as malhas deste sistema que nos tolhe tanto ou mais do que tolheu a ditadura do outro? Não haverá por aí mais uns Medinas Carreiras que, de forma independente e sem ligações a partidos, sindicatos ou instituições com interesses próprios, ajude este povo a mostrar a sua capacidade de revolta e a correr com quem lhes suga o sangue e a alegria de viver???

domingo, junho 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Em primeiro o "socialismo" não existiu e nunca existirá.O que há é a possibilidade de uma gestão séria,na moldura que é "imposta" ao PS,pela Europa,como dizia ,há tempos, Almeida Santos.Quanto ao PSD merece toda nossa crítica,porque os portugueses não estão interessados nas sua tricas internas ,mas numa alternativa a Sócrates,que por enquanto não se adivinha..

domingo, junho 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Talvez um dos comentários mais lúcidos que li nos últimos tempos e simultaneamente o de mais dificil resposta. A classe política que nos governou nos últimos 200 anos é por demais incompetente, e a que está agora é rigorosamente igual...todos querem apresentar numeros à custa da distorção da realidade, sabendo que mais tarde nunca serão chamados à responsabilidade. Isto para mim é o que falta...Os politicos devem ser avaliados pelo seu desempenho e castigados pelos maus resultados. Exemplo? Como se explica que um a 1º-ministro que na sua "obra de regime" tenha permitido uma derrapagem finaceira de 60% (estou a falar do CCB), seja permitido candidatar-se a PR, quando deveria estar sentado num tribunal a responder por gestão danosa? Alguma contraria este responsável?

domingo, junho 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

O articulista já se esqueceu do tempo em que Durão Barroso dizia que o país estava de tanga. De quem era a culpa então? Não é verdade que Portugal não acompanhe o ritmo de crescimento da Europa desde o o século XIX. Há 40 ou 50 anos, a esmagadora maioria dos portugueses vivia muito pior que actualmente e a diferença em relação à Europa desenvolvida era muito maior que actualmente. Nessa altura, grande parte do mundo rural comia diariamente pão, batatas e couves e uma sardinha de vez em quando. Hoje, a capitação do conjunto "carne mais peixe" de Portugal é a mais elevada da Europa, segundo dados recentes da FAO. O articulista aproveita a crise económica internacional, que está a provocar alarme mesmo nos países mais ricos como o Reino Unido e a França, para denegrir o que se fez em Portugal depois do 25 de Abril e para defender políticas liberais para Portugal, que não resultaram em lado nenhum. Veja-se o exemplo da América de Busch.

domingo, junho 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

A nossa política é um assunto muito triste, mas aqui e ali, para quem se habituar a ver o assunto com um certo distanciamrnto, surgem coisas com piada. Uma delas é a pretensão de Manuela Ferreira leite de que Sócrates é um tecnocrate e ela é mais humanista.Prepara-se para ultrapassar Sócrates pela esquerda. Ah, ah, ah. Outra é a preocupação do PR com a desigualdade social e com o elevado nível de pobreza. Mas como se chegou a isto Sr PR? Não foi com as políticas de direita neoliberal que o Senhor tão afincadamente defende?

domingo, junho 01, 2008  

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