segunda-feira, maio 19, 2008

Vistas curtas

"Um autarca algarvio acedeu, esta semana, a interromper as viagens que estava a promover até Cuba, levando munícipes para ser operados às cataratas. O autarca, como muitos outros por esse país fora, espera que o Governo solucione o problema internamente, pondo os nossos médicos a operar mais intensivamente. O curioso da questão é que o mesmo autarca algarvio fez as suas contas e comparou-as com as do Governo, chegando à conclusão de que compensa atravessar o oceano. Por cá, o Governo gasta à volta de mil euros com cada doente operado. Ir a Cuba fazer a operação, mais a viagem e a estadia, alimentação incluída, ronda os mil e 300 euros. Pelos dois olhos. Por este preço, marca-se a operação e uns dias depois o problema está resolvido. Por cá, vai ser preciso que o Governo abra mão de 30 milhões de euros para fazer 30 mil cirurgias num ano e assim combater as intermináveis listas de espera.

Em Portugal, segundo dados oficiais, chega-se ao ponto de centros oftalmológicos do Serviço Nacional de Saúde não operarem durante a tarde. Qualquer leigo dirá que se perde meio dia de trabalho. O mesmo acontece em muitos hospitais onde, sem exclusividade, os médicos trabalham uma média de quatro horas por dia. Certamente começam a trabalhar cedo, mas ao meio-dia estão despachadinhos.

Nas faculdades de Medicina, os numerus clausus continuam a deixar do lado de fora jovens que, de hoje para amanhã, poderiam ajudar a resolver este e outros problemas. Poderiam. Se quem manda e quem trabalha no sector quisessem ver - ver é o termo - o que se passa. Mas para ver, é preciso não ter vistas curtas. Assim, mais vale ir a Cuba não nos maçamos por cá, damos algum dinheiro a ganhar às agências de viagens e companhias de aviação e os doentes passeiam, sendo certo que, à vinda, até podem ver as vistas
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José Leite Pereira

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