terça-feira, junho 24, 2008

Bloco-notas

"Um fantasma percorre a política portuguesa e já soaram os tambores do alerta: um, dois, centro, direita, é o Bloco Central que volta a toque de caixa. Volta? Mas o Bloco Central alguma vez se foi embora?

O Bloco Central não é apenas uma marca de políticos, a aritmética dos ministros, secretários de Estado e gestores do partido-cara com os do partido-coroa. É alguma coisa bem mais profunda e instalada na política portuguesa que representa um vasto conjunto de interesses comparticipados e defendidos. Esse Bloco Central, aquele que verdadeiramente conta, como matéria de estudo ou como meio de representação e defesa de interesses, nunca deixou o poder. Não confundamos uma ou outra varredela nas administrações, pública, privada ou mista, uma revisão dos elencos, uma alteração nos ‘castings’, com a erradicação do Bloco Central. Até porque cada varredela mais não faz que levantar a poeira para que ela volte a assentar em bom recato. O Bloco Central é o bloco-notas dos interesses. E as notas do bloco não estão no poder: são o poder em Portugal.

Curiosamente tem havido em Portugal ascensões e quedas políticas em redor da promoção ou despromoção da marca do Bloco Central. Foi o caso da ascensão de Cavaco Silva, contra o Bloco Central de Mário Soares e Mota Pinto. Mas que temos hoje em Portugal, um quarto de século mais tarde? Um bloco, central, que vai de São Bento a Belém e volta. E de futuro pode, à volta, fazer transbordo não apenas no Rato mas também em São Caetano. É a mesma carreira. Alguns actores secundários ou retirados do elenco da comédia política estão naturalmente preocupados com o guião. É que, com tal cenário, por mais que arenguem nos bastidores nunca mais voltam à cena
."

João Paulo Guerra

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