quarta-feira, junho 18, 2008

O DIREITO À INTIMIDAÇÃO

"Enquanto o ministro da Administração Interna cirandava no Brasil, o eng. Mário Lino apareceu muito satisfeito pelo fim do pandemónio nos transportes, que no entender do ministro "terminou bem, mas podia ter terminado mal". Se "mal" quer dizer "pior", não se percebe como. Na prática, o Governo limitou-se a acatar exigências de gente pouco respeitadora da lei e do próximo. Aconteceu assim com os pescadores e, conforme não me custou prever na semana passada, assim aconteceu com os camionistas e assim acontecerá com as classes profissionais que, legitimadas pelos precedentes, resolvam elevar o crime a método reivindicativo.

Pouco importa se os criminosos representam sindicatos ou o patronato: ao invés do que acha a extrema-esquerda, que recebeu os distúrbios das transportadoras com invulgar contenção, não há grande diferença em arrasar a ordem pública a partir de "baixo" ou a partir de "cima". Afinal, a ordem pública acaba arrasada à mesma, e tudo o que os perpetradores da façanha podem esperar é uma data de benesses à conta do contribuinte que, estupidamente, não saiu à rua com intuitos beligerantes.

Para consolo íntimo ou redenção do PS, há quem defenda que em Espanha, por exemplo, foi igual. Não exageremos. Até o curioso governo do sr. Zapatero possui uma ideia das funções que lhe competem: a polícia interveio nos "piquetes" e prendeu dezenas de organizadores, alguns dos quais foram entretanto agraciados com meses de prisão. Por cá, as autoridades (?) optaram pela contemplação, para ver no que aquilo dava, a que acrescentaram a capitulação, por aquilo ter dado no que deu.

Porquê? Porque a famosa "inflexibilidade" do primeiro-ministro é notável quando as sondagens são altas e as contrariedades nulas, mas derrete-se como manteiga perante um esboço de chantagem e as primeiras sombras eleitorais. Trocar a imposição do direito pela cedência a bandidos classifica o Executivo a que o eng. Sócrates alegadamente preside. Confessar, em seguida, que "por momentos" sentiu o Estado "vulnerável" classifica o eng. Sócrates. Sob qualquer perspectiva, o homem não é um governante: é um infeliz à deriva, atormentado pelo receio de se afundar de vez.

O que talvez lhe valha é que a oposição disponível nem a isso chega. A crise vigente constituiu uma oportunidade para que a dra. Ferreira Leite se afirmasse alternativa à inépcia dos socialistas, tipicamente permeáveis à baderna popular. Sucede que, em vez de ganhar a prometida credibilidade, a dra. Ferreira Leite ganhou sumiço. Com certeza nasceu-lhe outro neto.
"

Alberto Gonçalves

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