sexta-feira, junho 06, 2008

Perdido

"Desde a chegada ao poder, Sócrates teve essencialmente como estratégia não afrontar a direita”.

Sócrates vive um drama shakespeariano. É a crise do petróleo. É o ricochete da tão aclamada globalização. É o aumento do custo dos produtos alimentares e a ameaça da sua escassez. É a diminuição do investimento estrangeiro. É o aumento do fosso entre ricos e pobres, do qual o nosso país é recordista europeu. São todas as oposições a montar o arraial. São as manifestações, as greves e as moções de censura. É, sobretudo, o não saber o que fazer com o poder de que tanto gosta.

Desde a chegada ao poder, Sócrates teve essencialmente como estratégianãoafrontara direita porque a esquerda, então, (bons tempos...) não lhemetiamedo.Cavaco, enquanto Sócrates se mantiver o bom aluno que ele tantotemapreciado,vai continuar calmo e colaborante e está fora de questão que, apesar da amizade de longa data com a nova líder do PSD, possa fazer a Sócrates qualquer coisa de semelhante ao que Sampaio fez a Santana.

O PSD também se não mostra capaz de trazer nada de novo. Quem elegeu MFL não foram Pacheco Pereira e Marcelo. Foi Menezes e o seu circo. O que se louva à nova líder do PSD é não ser uma troca-tintas qualquer. A firmeza e a austeridade. O que, sendo muito, é também muito pouco. Ainda não ouvimos ninguém elogiar-lhe a rapidez de pensamento, os grandes rasgos políticos, a capacidade de atacar e superar crises, a perspicácia na escolha dos colaboradores ou qualquer outra das qualidades que definem um líder. Por aí pode, pois, Sócrates dormir descansado. No ideário programático, ele e MFL, convictos fatalistas, bebem, afinal, da mesma fonte. E para MFL como para o PSD (descontada a avidez das clientelas) será muito mais fácil e cómodo continuar a ter quem execute o programa do seu partido sem que os ónus dessa governação caiam estrondosamente sobre as suas cabeças. E, agora que MFL ousou manifestar preocupações sociais, mais iguais se tornaram ainda.

O perigo real para Sócrates não vem do PSD ou do CDS. A magna questão consiste nofactodesetertornado profundamentevulnerável em termos sociais e não ter a convicção, nem a coragem, nem (já) o espaço, para virar à esquerda. Foi ele próprio que fortaleceu o PCP e o BE, que nunca lhe facilitarão a vida em troca de esmolas. Está encurralado num beco sem saída. Se a direita (do PSD) tiver imaginação para recuperar a sua identidade e os seus territórios e prescindir dele, tratando-o como um intruso, não lhe será permitido o regresso à casa paterna. Acabará os dias às mãos de alegristas, bloquistas e comunistas
."

João Marques dos Santos

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