A vitória da contestação

"A rua foi ontem mais eficaz do que o Parlamento. O Governo não sofreu muitos danos com a moção de censura do CDS-PP, mas a manifestação da CGTP que reuniu cerca de 200 mil pessoas em Lisboa mostrou a insatisfação do país real.

Provavelmente só o primeiro-ministro não ficou impressionado com os números, que revelam uma notável capacidade de mobilização da central sindical. O Código do Trabalho era o motivo do protesto, mas se não fosse a crise económica e a insatisfação real dos cidadãos Carvalho da Silva não conseguiria reunir tanta gente.

A crise económica agravou a sensação de insegurança dos trabalhadores e diminuiu o poder de compra dos salários. Como se isso não bastasse, as subidas dos combustíveis, dos jurose dos bens alimentares essenciais tornaram ainda mais dramática a verdadeira odisseia de esticar o rendimento mensal até ao fim do mês. São estas condições que favorecem o peso eleitoral da esquerda em Portugal. Em nenhum país da Europa os partidos à esquerda dos socialistas têm tantos votos. Mas em nenhum país a estagnação económica é tão grave quanto a que já vivemos há sete anos. Nos últimosmeses,porcausa da depressãointernacional agravada pela crise do ladrilho em Espanha desapareceu a esperança nessa mítica retoma. "

Armando Esteves Pereira