Ingrid Betancourt

"Foi uma semana extraordinária. Não neste sítio cada vez mais pobre, cada vez mais manhoso e cada vez mais mal frequentado. Por cá correu tudo dentro da mais triste normalidade.

A nova líder do PSD deu uma entrevista, o senhor presidente do Conselho José Sócrates deu uma entrevista, os senhores ministros vieram dizer aos indígenas que andam muito preocupados com o seu desgraçado nível de vida, o Governo decidiu dar umas benesses ao IMI, sempre para os mais desfavorecidos, esquecendo obviamente que só há tantos proprietários de habitações hipotecados até ao pescoço porque os Executivos da democracia têm seguido, sem tirar nem pôr, a criminosa política de rendas do senhor doutor Oliveira Salazar.

Uma semana normal, tão normal que a Bolsa continuou o seu alegre afundamento,os preços do petróleo continuaram imparáveis, a inflação também e os juros voltaram a subir para desespero dos que têm empréstimos e para alegria dos que puseram as suas poupanças a render na Banca. Tão normal, tão normal que até a chamada Justiça desportiva decidiu dar mais um espectáculo extraordinário, com juristas e magistrados de diversas origens a insultarem-se na praça pública a propósito dos castigos aplicados ao senhor Jorge Nuno Pinto da Costa e ao Boavista. Mas a semana lá fora, por esse Mundo, ficou marcada por um acontecimento extraordinário que nos fez esquecer por breves momentos as desgraças domésticas e internacionais.

Trata-se obviamente da libertação de Ingrid Betancourt e de outros reféns do grupo narcoterrorista,quedápelonomede FARC. Foi bonito ver como as forças de segurança da Colômbia, com apoio de vários especialistas israelitas, conseguiram dar um golpe brutal num grupo de criminosos, que há anos mataeraptainocentese vive do tráfico de droga.

As imagens da operação e as caras felizes dos que recuperaram a liberdade há muito perdida conseguiram atirar para segundo plano as muitas desgraças que atingem milhões de pessoas por via da crise internacional e da acção de muitos bandidos que continuam a ter o apoio e a compreensão de muita gentalha que se diz de esquerda, de direita, de coisa nenhuma e que enche a boca com liberdades e direitos humanos sempre que alguém lhe põe um microfone ao pé da boca. E nem as palavras dos comunistas do PAN, Partido Amigo dos Narcoterroristas, conseguiram estragar uma semana marcada pela extraordinária libertação de Ingrid Betancourt. "

António Ribeiro Ferreira