quinta-feira, julho 24, 2008

O vaivém dos petrodólares

"Os petrodólares ajudam a salvar da falência os megabancos americanos e europeus afectados pela crise do crédito hipotecário de alto risco.

Uma das consequências directas da escalada dos preços do petróleo é a transferência de rendimento dos países consumidores para os países produtores. A subida do ouro negro está a encher de divisas os cofres dos países exportadores, os chamados petrodólares. Segundo a Morgan Stanley, as receitas anuais do petróleo rondam a 2,1 biliões de dólares, cerca de 20 % o PIB dos EUA.

Uma parte deste dinheiro fica dentro dos próprios países produtores aumentando a liquidez interna e facilitando o crédito, o que alimenta pressões inflacionistas.

Mas a abundância de petrodólares não causa só problemas, bem pelo contrário. Entre outras coisas, permite financiar generosos programas de investimentos públicos, designadamente ao nível das infra-estruturas. Em alguns países, o pacote inclui projectos extravagantes como pistas de ‘ski’ no meio de deserto ou ilhas artificiais, mas ainda assim sobra muito dinheiro. A verdade é que os paises produtores de petróleo não têm capacidade para gastar os petrodólares internamente.

Por isso a outra parte das receitas do ouro negro vai para o exterior, regressando aos países consumidores, graças à globalização.

Uma percentagem do dinheiro gasto em petróleo acaba por ser recuperada pelos países consumidores, em especial os mais desenvolvidos, através das exportações, isto é da venda de bens e serviços de alto valor acrescentado a uma população ávida de gastar petrodólares.

O sistema financeiro é outro canal através do qual os petrodólares regressam aos países consumidores. Os produtores de petróleo estão a canalizar somas astronómicas de dinheiro para os mercados financeiros internacionais, nomeadamente através dos respectivos fundos soberanos que estão muito activos na aquisição de participações em grandes conglomerados. Mais uma vez os principais beneficiados são os países desenvolvidos. Os petrodólares ajudam a salvar da falência os megabancos americanos e europeus afectados pela crise do crédito hipotecário de alto risco.

É o vaivém de petrodólares que justifica as visitas recentes do primeiro-ministro de Portugal a Angola e à Líbia. Qual director comercial de uma empresa, José Sócrates foi tentar vender o país e os seus produtos e serviços a quem tem dinheiro. Pode gostar-se ou não, mas é o mundo em que vivemos
."

Carlos Rosado de Carvalho

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