ORANGOTANGOS
"Enquanto no Congresso Feminista, em Lisboa, Maria Teresa Horta continua a berrar por igualdade, King Kong já a obteve em Madrid. É sempre assim. Antes de se tornar uma banalidade aceite por todos, qualquer reivindicação cívica começa por ser o combate de uns escassos, e valentes, sonhadores. Às vezes, o sonho e a realidade distam séculos. Outras vezes a mudança dá-se num instante.
Ainda há dois ou três anos, o deputado socialista Francisco Garrido foi alvo de vasta chacota quando, no parlamento espanhol, propôs atribuir aos grandes símios os direitos dos seres humanos. Agora, a chacota transformou-se em razoável consenso: com a abstenção parcial do PP, a Espanha aprovou a lei que equipara orangotangos, gorilas, chimpanzés e similares ao homem. E por homem, aqui, entenda-se a humanidade em geral e não apenas o tal sr. Garrido.
Não ficou explícito se, simultaneamente aos direitos, os grandes símios passam a estar sujeitos aos deveres das pessoas, entre as quais o pagamento de impostos e a exposição a leis idiotas. Nem se explicou com clareza a razão de os pequenos símios, por exemplo, permanecerem fora do acordo. Que eu saiba, o único argumento utilizado foram os 99% de genes que orangotangos e companhia partilham connosco.
Na qualidade de possuidor voluntário de sete cães e um cágado, e senhorio involuntário do ocasional aranhiço, o avanço espanhol, embora louvável, não me satisfaz. Porquê fixar o limite nos 99%? Cachorros, cágados, saguis, ovelhas, trutas, moscas da fruta e a esmagadora maioria das espécies têm, ao que consta, mais de 90% do nosso código genético. Não há nenhum motivo para que permaneçam discriminadas, donde a necessidade de prosseguir a luta.
Os activistas espanhóis só podem descansar no dia em que também o esquilo ou a osga beneficiem de plena cidadania e do respeito que os homens, as mulheres e os chimpanzés de Castela e da Catalunha hoje merecem. Mesmo que, como devotado apreciador de bichos, eu duvide que estes ganhem em ser salvos dos tarados que os torturam para acabarem governados pelo sr. Zapatero. Afinal, os pobrezinhos não o elegeram, direito que, insisto, lhes devia assistir sem demora."
Alberto Gonçalves
Ainda há dois ou três anos, o deputado socialista Francisco Garrido foi alvo de vasta chacota quando, no parlamento espanhol, propôs atribuir aos grandes símios os direitos dos seres humanos. Agora, a chacota transformou-se em razoável consenso: com a abstenção parcial do PP, a Espanha aprovou a lei que equipara orangotangos, gorilas, chimpanzés e similares ao homem. E por homem, aqui, entenda-se a humanidade em geral e não apenas o tal sr. Garrido.
Não ficou explícito se, simultaneamente aos direitos, os grandes símios passam a estar sujeitos aos deveres das pessoas, entre as quais o pagamento de impostos e a exposição a leis idiotas. Nem se explicou com clareza a razão de os pequenos símios, por exemplo, permanecerem fora do acordo. Que eu saiba, o único argumento utilizado foram os 99% de genes que orangotangos e companhia partilham connosco.
Na qualidade de possuidor voluntário de sete cães e um cágado, e senhorio involuntário do ocasional aranhiço, o avanço espanhol, embora louvável, não me satisfaz. Porquê fixar o limite nos 99%? Cachorros, cágados, saguis, ovelhas, trutas, moscas da fruta e a esmagadora maioria das espécies têm, ao que consta, mais de 90% do nosso código genético. Não há nenhum motivo para que permaneçam discriminadas, donde a necessidade de prosseguir a luta.
Os activistas espanhóis só podem descansar no dia em que também o esquilo ou a osga beneficiem de plena cidadania e do respeito que os homens, as mulheres e os chimpanzés de Castela e da Catalunha hoje merecem. Mesmo que, como devotado apreciador de bichos, eu duvide que estes ganhem em ser salvos dos tarados que os torturam para acabarem governados pelo sr. Zapatero. Afinal, os pobrezinhos não o elegeram, direito que, insisto, lhes devia assistir sem demora."
Alberto Gonçalves
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