O preço do erro
Ao que erra perdoa-se uma vez, mas não três. Não se trata de vedar ao Engº José Sócrates um direito tão humano como o de errar, mas a persistência no dito começa a assustar e os efeitos do erro crónico saem caro. Ora, o Governo acumula erros de previsão a uma cadência só comparável ao ritmo a que o ministro da Agricultura acumula ódios, o que me parece um despique pouco edificante. Se não, vejamos: há três meses, repito, três meses, o 1º ministro anunciou, triunfante, o fim da crise. Já na semana passada, Manuel Pinho veio dizer que, se a actual conjuntura económica já não é boa, os próximos anos prometem ser ainda piores.
E conclui que é preciso coragem. Pessoalmente, acho que é preciso algum descaramento a um Governo para pedir ‘coragem’ quando erra sistematicamente nas previsões do PIB, do investimento, do desemprego, do crescimento, das exportações, da inflação e do preço do petróleo. Em finais de 2007, já se alertava para um preço do barril na ordem dos 150 dólares, mas isso não perturbou a previsão frívola de 80 dólares para 2008. Há um mês apenas, o Governo reviu para 115 dólares. Ontem chegou aos 143. E a única solução que Sócrates apresenta para nos retirar deste sufoco é apostar, agora e em força, nos carros eléctricos.
Quanto à inflação, temos a previsão do Governo em 2,1%, temos a revisão oficial para 2,6% e, depois, temos a inflação real que, como Bagão Félix tem vindo a alertar, deve rondar os 5%. Querem apostar que ninguém vai notar a descida do IVA? Na mesma proporção, mas em sentido descendente, vão os índices de confiança dos consumidores e a poupança das famílias, conforme o relatório do INE do mês passado. Será uma ousadia afirmar que são deveres de um Governo prever e prevenir?
O limite de caracteres não me permite elencar todos, mas, se somarmos o já clássico erro da Ota, a ida do MAI para o Brasil em plena crise, a escolha de kiwis e dióspiros como produtos estratégicos para a agricultura, o falhanço das Novas Oportunidades e do PRACE, os exames do 9º ano que poderiam ser feitos ao 9º ano de idade e o tremendo atraso nas reformas da Saúde, ficamos com a sensação apavorante de estarmos a ser governados por Bob Proctor, o autor do ‘Segredo’, segundo o qual basta querer algo para que aconteça. E já agora quem terá sido o visionário ministro do Desporto, mentor desse desígnio nacional que foi a construção de dez megaestádios de futebol para o Euro’2004, muitos actualmente abandonados?
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