‘Short thinkers’
"Dois reputados economistas, Campos e Cunha e João Duque, desmistificaram a culpa dos especuladores na subida astronómica do barril do petróleo em excelentes artigos de opinião no “Público” e no “Expresso”.
Fizeram-no da forma mais simples: explicando o seu papel a quem não o entende e por isso lhes atira as culpas de todos os males do mercado, tal como nos tempos pré-históricos qualquer catástrofe era explicada pela fúria divina. Mas os especuladores – nas versões mais diabólicas dos ‘hedge funds’ e dos ‘short sellers’– têm igualmente sido sacos de pancada para a queda vertiginosa dos mercados de acções em geral e do português em particular.
Os ‘hedge-funds’ apostam na correcção de desequilíbrios sistémicos – seja do euro face ao dólar, taxas de juro ou preços de determinado activo, como o petróleo, ou as acções. Contratam legiões de PhD, desenvolvem modelos altamente sofisticados e apoiam as suas apostas com valores que superam o PIB de alguns pequenos países. Os ‘short sellers’, pedem emprestados títulos que consideram sobrevalorizados e vendem-nos ao preço actual, esperando poder comprá-los mais barato no futuro, devolvê-los e ficar com o lucro.
Fazem-no com a mesma legitimidade com que um pequeno aforrador aposta as suas poupanças no longo prazo, ou que um investidor dito estratégico entra numa empresa – para ganhar dinheiro. Apenas o fazem com maior disponibilidade financeira e mais inteligência. Um investidor deve apostar na bolsa somente o dinheiro de que não precisa nos próximos anos. E só concentra os seus investimentos em Portugal se for muito mal aconselhado.
Se seguisse estas regras básicas, apesar da queda das bolsas, estaria a ganhar 54% no PSI 20 desde Junho de 2003, ou seja, há precisamente cinco anos. No mesmo período, teria ganho 76% aqui ao lado, no Ibex, 21% no Dow Jones, e teria multiplicado a poupança por cinco na brasileira Bovespa. Mesmo reduzindo o investimento à praça de Lisboa, poderia ter ganho 130% se tivesse fechado posições em Julho do ano passado, quando a bolsa atingiu o seu pico mais recente sem que nada o justificasse – nada, a não ser a especulação.
Tal como os adivinhos eram suficientemente inteligentes para prever que depois da tempestade regressaria o bom tempo, não é preciso dotes mágicos para saber que as bolsas voltarão a subir. É uma questão de tempo. Os ‘short sellers’ voltarão em breve a comprar acções para pagar as que venderam hoje e ajudarão a inverter a tendência dos mercados. O investidor inteligente poderá pensar em regressar ao mercado nos próximos meses, sabendo que, mesmo que perca algum dinheiro no imediato, ganhará à distância. Basta antecipar as tácticas dos actores mais poderosos do sistema e transformá-los em aliados. Quem perde dinheiro na bolsa não deve culpar o ‘short selling’, mas o seu próprio ‘short thinking’. "
Pedro Marques Pereira
Fizeram-no da forma mais simples: explicando o seu papel a quem não o entende e por isso lhes atira as culpas de todos os males do mercado, tal como nos tempos pré-históricos qualquer catástrofe era explicada pela fúria divina. Mas os especuladores – nas versões mais diabólicas dos ‘hedge funds’ e dos ‘short sellers’– têm igualmente sido sacos de pancada para a queda vertiginosa dos mercados de acções em geral e do português em particular.
Os ‘hedge-funds’ apostam na correcção de desequilíbrios sistémicos – seja do euro face ao dólar, taxas de juro ou preços de determinado activo, como o petróleo, ou as acções. Contratam legiões de PhD, desenvolvem modelos altamente sofisticados e apoiam as suas apostas com valores que superam o PIB de alguns pequenos países. Os ‘short sellers’, pedem emprestados títulos que consideram sobrevalorizados e vendem-nos ao preço actual, esperando poder comprá-los mais barato no futuro, devolvê-los e ficar com o lucro.
Fazem-no com a mesma legitimidade com que um pequeno aforrador aposta as suas poupanças no longo prazo, ou que um investidor dito estratégico entra numa empresa – para ganhar dinheiro. Apenas o fazem com maior disponibilidade financeira e mais inteligência. Um investidor deve apostar na bolsa somente o dinheiro de que não precisa nos próximos anos. E só concentra os seus investimentos em Portugal se for muito mal aconselhado.
Se seguisse estas regras básicas, apesar da queda das bolsas, estaria a ganhar 54% no PSI 20 desde Junho de 2003, ou seja, há precisamente cinco anos. No mesmo período, teria ganho 76% aqui ao lado, no Ibex, 21% no Dow Jones, e teria multiplicado a poupança por cinco na brasileira Bovespa. Mesmo reduzindo o investimento à praça de Lisboa, poderia ter ganho 130% se tivesse fechado posições em Julho do ano passado, quando a bolsa atingiu o seu pico mais recente sem que nada o justificasse – nada, a não ser a especulação.
Tal como os adivinhos eram suficientemente inteligentes para prever que depois da tempestade regressaria o bom tempo, não é preciso dotes mágicos para saber que as bolsas voltarão a subir. É uma questão de tempo. Os ‘short sellers’ voltarão em breve a comprar acções para pagar as que venderam hoje e ajudarão a inverter a tendência dos mercados. O investidor inteligente poderá pensar em regressar ao mercado nos próximos meses, sabendo que, mesmo que perca algum dinheiro no imediato, ganhará à distância. Basta antecipar as tácticas dos actores mais poderosos do sistema e transformá-los em aliados. Quem perde dinheiro na bolsa não deve culpar o ‘short selling’, mas o seu próprio ‘short thinking’. "
Pedro Marques Pereira
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