quarta-feira, julho 02, 2008

Torre do Bugio


A importância da defesa marítima de Lisboa era, desde o reinado de D, João II, uma preocupação efectiva para a Coroa portuguesa. Embora tivesse sido edificado um conjunto de fortalezas no perímetro entre Cascais, Caparica e a barra do Tejo em Oeiras até aos primeiros anos do século XVI, este tornou-se insuficiente, pelo que no reinado de D. João III iniciou-se a construção do forte de São Julião da Barra.
Apesar das dimensões e da modernidade estrutural desta fortaleza, a entrada da barra continuava exposta, pelo que em 1571 Francisco de Holanda, na obra Da fábrica que falece à cidade de Lisboa sugeriu a D. Sebastião a construção de um baluarte no areal da Cabeça Seca, fronteiro a São Julião, que tinha por objectivo dotar a entrada do rio do cruzamento de fogos entre as duas fortalezas (BOIÇA,J., BARROS,F., 1997,p.276).
O projecto acabou por ser esquecido, e só em 1579, com a iminência de um ataque da armada castelhana a Lisboa, essa hipótese voltou a ser considerada, construindo-se então um forte de madeira no areal junto à Trafaria, que não teve relevância alguma na defesa da capital em 1580.
Filipe II empreendeu então um novo projecto de defesa e fortificação da barra do Tejo, que numa primeira fase correspondeu a obras de ampliação na fortaleza de São Julião da Barra e à construção do forte de Nossa Senhora da Luz, em Cascais. Depois da conclusão destes empreendimentos iniciou-se uma segunda fase construtiva, que estendia a "rede" de fortalezas da barra da capital ao Estoril e à Cabeça Seca (Idem, ibidem).
Em Dezembro 1589 o monarca contratou o italiano Frei Vicêncio Casale para que traçasse a planta do forte da Cabeça Seca. No final de Janeiro de 1590 o arquitecto apresentava a Filipe II o projecto, que contemplava as obras de engenharia necessárias à implantação da fortaleza no ilhéu de areia fronteiro a São Julião da Barra e apresentava ao rei duas planimetrias distintas, uma estrelada, outra circular. Esta última foi a escolhida, por apresentar maior solidez face ao impacto do mar e maior facilidade de mobilização da artilharia.
As obras das fundações iniciavam-se ainda nesse ano, mas o processo de edificação dos alicerces acabaria por se tornar demasiado moroso, e a morte de Frei Vicêncio Casale em 1593 viria atrasar a continuidade da obra. No espaço de um ano foram nomeados dois responsáveis para a direcção das obras, o arquitecto Tibúrcio Espanochi e o engenheiro Gaspar Roiz, e somente em 1601 era finalizada a colocação da pedra das bases.
Embora Leonardo Turriano, engenheiro-mor do reino, tivesse apresentado um projecto oval para a fortaleza, Gaspar Roiz daria início à edificação do forte, segundo a planta de Casale. No entanto, foram introduzidas algumas modificações na estrutura, como o alargamento do diâmetro, para melhorar a operacionalidade do forte, e modificações no edifício central da praça de armas, com o objectivo de reduzir os gastos e o tempo de edificação, que se arrastava há vários anos.
Na realidade, a fortaleza só viria a ser terminada durante o reinado de D. João IV, sob a direcção de Frei João Turriano, que redesenhou a planta do forte, visando um maior poder defensivo, bem como um aumento da operacionalidade.
O Forte do Bugio apresenta-se como um dos mais interessantes projectos de arquitectura militar maneirista portuguesa, inspirado na sua fase original no Castel Sant'Angelo de Roma (MOREIRA, R., 1986). A base da fortaleza, de planimetria circular, assenta sobre todo o ilhéu, protegida por uma muralha baixa, com alambor. Ao centro da praça foi erigida a torre, também circular, dividia em dois registos, com 21 dependências interiores e poucas janelas rasgadas no seu perímetro, e integrando uma capela dedicada ao padroeiro São Lourenço, com retábulo-mor em embrechados de mármore e espaço interior forrado de madeira.
Catarina Oliveira



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