Unânimes
"Um dos raros momentos de unanimidade parlamentar em Portugal registou-se na Assembleia da República no final da semana passada: todos os partidos com representação em São Bento aprovaram a declaração segundo a qual a pobreza constitui uma violação dos Direitos Humanos.
Não custou nada, principalmente porque a declaração não muda coisa alguma nem obriga ninguém. A partir deste marco parlamentar, a pobreza continuará e a sua erradicação permanecerá adiada, mas uma e outra passam a ser armas de arremesso no debate semicircular.
Isto é: a partir de agora, o Governo, seja ele qual for, vai continuar a produzir mais pobres mas vai alegar que esse é o caminho para acabar de vez com a pobreza. E as oposições, quaisquer que sejam, vão atirar com os pobres e com a pobreza à cara do poder. Fica sempre bem defender os coitadinhos, os desgraçados: é fácil, porque são apenas palavras, é barato, porque a compaixão não tem parcela inscrita no Orçamento, e dá milhões de votos.
Outra coisa seria se fosse posta à votação uma simples declaração de que a pobreza não é uma fatalidade. Porque toda este serôdio debate em redor dos pobrezinhos assenta no pressuposto de que a pobreza é inevitável e se resolve com caridade, que é a maneira mais segura de manter os pobres no seu sítio, reduzindo-os à condição de pedintes. Outra coisa seria se os partidos fossem chamados a votar um compromisso de que, no poder ou na oposição, se responsabilizariam por defender e aplicar politicas de criação de riqueza, e não apenas de produção de ricos, de distribuição equitativa, de solidariedade e justiça social.
Mas então, lá se ia a unanimidade, porque essa seria a diferença essencial entre o “blá, blá” e a seriedade."
João Paulo Guerra
Não custou nada, principalmente porque a declaração não muda coisa alguma nem obriga ninguém. A partir deste marco parlamentar, a pobreza continuará e a sua erradicação permanecerá adiada, mas uma e outra passam a ser armas de arremesso no debate semicircular.
Isto é: a partir de agora, o Governo, seja ele qual for, vai continuar a produzir mais pobres mas vai alegar que esse é o caminho para acabar de vez com a pobreza. E as oposições, quaisquer que sejam, vão atirar com os pobres e com a pobreza à cara do poder. Fica sempre bem defender os coitadinhos, os desgraçados: é fácil, porque são apenas palavras, é barato, porque a compaixão não tem parcela inscrita no Orçamento, e dá milhões de votos.
Outra coisa seria se fosse posta à votação uma simples declaração de que a pobreza não é uma fatalidade. Porque toda este serôdio debate em redor dos pobrezinhos assenta no pressuposto de que a pobreza é inevitável e se resolve com caridade, que é a maneira mais segura de manter os pobres no seu sítio, reduzindo-os à condição de pedintes. Outra coisa seria se os partidos fossem chamados a votar um compromisso de que, no poder ou na oposição, se responsabilizariam por defender e aplicar politicas de criação de riqueza, e não apenas de produção de ricos, de distribuição equitativa, de solidariedade e justiça social.
Mas então, lá se ia a unanimidade, porque essa seria a diferença essencial entre o “blá, blá” e a seriedade."
João Paulo Guerra
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