terça-feira, julho 01, 2008

Violência

"Alunos já batiam nos professores. “Populares” já batiam nos polícias. Agora, arguidos batem e ameaçam magistrados em plena sala de audiências. Os médicos e os padres que se cuidem: um diagnóstico mais sombrio, uma penitência mais pesada e serão as próximas vítimas. A sociedade portuguesa atingiu um nível nunca visto de agressividade.

Mas seria de prever o contrário, numa sociedade que pratica o grau zero do civismo, que cultiva com certa vaidade a grosseria, que despreza a instrução, a cultura, a solidariedade, os valores civilizacionais e que ergue como modelo qualquer arranjista de sucesso que trepa na vida pela falta de escrúpulos? Ou não serão estes sinais aterradores de agressividade os sucedâneos naturais de uma sociedade que não funciona, de escolas que formam o insucesso, de autoridades que se abstêm, de mecanismos de justiça que nem Kafka imaginou, da arrogância e autismo do poder?

A exacerbada agressividade na sociedade portuguesa será também o estuário natural de uma crise infinita, que recebe outras crises como afluentes e que lança os portugueses para um horizonte de desigualdade, sem remédio e sem esperança. De todos os índices da desgraça portuguesa talvez o mais significativo seja o pessimismo, a descrença, o desespero sempre crescente. E que faz um desesperado perante mais um capítulo do seu desespero? É provável que expluda.

A vida democrática em Portugal é uma mera balela, que se resume a formalismos. Aqui há uns anos ainda se barafustava contra o patrão, se discutia na comunidade de moradores, se protestava na empresa ou no sindicato. Agora o melhor é ficar calado. E encher. E um dia explodir. Já vimos muito mas ainda não vimos nada. Isto ainda acaba mal
."

João Paulo Guerra

Divulgue o seu blog!