segunda-feira, agosto 18, 2008

PRÓS?

"Leio que, em Janeiro último, um electricista chamado Pedro Jorge foi ao Prós e Contras queixar-se de que a empresa onde trabalhava lhe pagava 541,2 euros/mês e não o aumentava desde 2003 (ou 2004 - o sr. Jorge hesitou). Em consequência, a tal empresa considerou as afirmações lesivas do seu "bom nome" e suspendeu o homem.

É fácil concordar que o salário não é famoso, e que a estagnação do dito há cinco (ou quatro) anos não ajuda. Em última instância, é difícil discordar da suspensão do sr. Jorge. Não, claro, por causa do "bom nome" da empresa, que de resto nem sei qual é. Mas por causa da participação no Prós e Contras.

Ainda que o novo Código do Trabalho incompreensivelmente não o admita, uma simples ida a esse excepcional programa deveria constituir motivo para despedimento com justíssima causa. Não vejo que um empregador tenha condições (materiais, morais, etc.) de manter um funcionário que se sujeite a semelhante figura: por competente e sério que um profissional seja, aceitar o convite da "dra. Fátima" derruba qualquer reputação e mancha o melhor currículo.

Suspeito que, no seu bizarro género, o Prós e Contras não será único no mundo. Tenho a certeza de que é mau que chegue. E há um mistério no facto de uma televisão estatal dedicar, todas as semanas, três horas que parecem trinta a um espaço de debate em que nada é debatido. É verdade que a forma está lá: temas "importantes", uma moderadora, especialistas comprovados ou alegados, audiência "ao vivo". Já o conteúdo perdeu-se no paternalismo com que o "serviço público", justa ou injustamente, contempla os espectadores que tem e escolhe o serviço que lhes presta. A mesma RTP que, no "telejornal", encaixa a invasão da Geórgia entre uma notícia de louvor ao Governo e outra em volta de um treino de futebol, entende que os contribuintes que a sustentam querem pagode.

E não há pagode maior que o Prós e Contras, responsável por reduzir tanto pessoas respeitáveis quanto lunáticos a palpiteiros de café. Só faltam os tremoços para que o Prós e Contras se consagre como o mais português dos programas televisivos, infelizmente no sentido em que o PSD é o mais português dos partidos e o Benfica o mais português dos clubes. Isto é, sem sentido nenhum.
"

Alberto Gonçalves

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