Juventudes partidárias

"Pela lógica da vida, as juventudes partidárias acabarão por fornecer os futuros líderes políticos da nação. Mas eu não estou descansado. A julgar pelos jornais, as juventudes aproveitam as férias de Verão, não para gozarem o Verão - mas simplesmente para continuarem a dedicação à causa com um fanatismo que transforma as antigas "mocidades" portuguesas em meros amadores.

O Bloco de Esquerda, por exemplo, não tem sossego. O Parlamento encerrou as portas? O Bloco resolveu acampar na serra da Estrela, estragando a paisagem e o sossego dos nativos. De acordo com a responsável pelo circo, o acampamento funcionará de 6 a 11 de Agosto e os "bloquinhos", pela módica quantia de dez euros/dia, terão a oportunidade única de ouvir Miguel Portas, aprender a utilizar brinquedos sexuais e a organizar formas de luta social e anti-autoritária. Pagar dez euros, em plenas férias, para ouvir Miguel Portas discursar, devia dar direito a internamento imediato. Mas o que dizer dos brinquedos sexuais e das técnicas de luta social e anti-autoritária? Partindo do pressuposto de que os jovens do Bloco não tencionam protestar pelas ruas com vibradores na mão, o fascínio pelos brinquedos só se explica por imperiosos motivos de necessidade. O que não admira: olhando para a qualidade estética das fileiras masculinas e femininas do Bloco, só mesmo instrumentos com pilha alcalina podem cumprir os inevitáveis deveres românticos ou conjugais.

Mas o Bloco não é caso único; a JSD, por exemplo, resolveu subir um pouco o nível e na sua "Universidade de Verão" não só tenciona dar notas aos "alunos" como premiar os melhores com estágios de seis meses em Bruxelas, na companhia dos eurodeputados do PSD. Que maravilha! Se me dissessem, neste preciso momento, que eu iria passar seis meses, numa cidade como Bruxelas, na companhia de eurodeputados, eu atirava-me da janela sem pestanejar. Ou, pelo menos, rumava para a serra da Estrela e entregava-me ao Bloco em gesto sacrificial."

João Pereira Coutinho