Os dilemas dos EUA face a Obama
"Barack Obama é o favorito da Europa. Mas esta não vota nas eleições norte-americanas. Na noite de terça para quarta deve ter estado de olhos atentos a ver o que se passava em Denver, à espera do que dizia Hillary Clinton. A Europa sabe que McCain, com pés de lã e uma campanha contundente, começa a ter tantas hipóteses de ganhar como Obama.
Hillary forneceu o "slogan" de contra-ataque a Obama, algo que os conselheiros deste ainda não tinham descortinado: "No way. No how. No McCain" (qualquer coisa como: "De jeito nenhum. De maneira nenhuma. Sem McCain". Mas este impulso pode não ser o suficiente para dar algum fôlego a uma campanha que se intrometeu pela imagem de ruptura e que, ultimamente, se está a atirar para os braços dos compromissos. O último foi a escolha do senador Biden para candidato a Vice-Presidente. Compreende-se: com ele, Obama tenta compensar as suas principais vulnerabilidades: inexperiência e ser "de fora". Biden é um político que parece ter acampado em Washington há dezenas de anos, faz parte do "establishment" e também é célebre por uma série de dislates (a série "Boston Legal", no episódio transmitido em Portugal no dia em que ironicamente começava o convívio eleitoral de Denver, gozava com Bush e Biden, devido à semelhança das suas opiniões sobre os chamados afro-americanos). Mas serve para compensar os défices visíveis de Obama na América profunda. Biden sabe falar com os operários, depois é branco (algo que muitos eleitores democratas do sul consideram fundamental – não esqueçamos que o sul sempre foi democrata até ao período das "liberdades políticas", já que o Partido Democrata era muito mais conservador que o Republicano sobre os assuntos rácicos), e assume-se como "um verdadeiro americano". Obama, apesar de ter sido educado em Harvard, ainda é visto como alguém com ligações ao mundo islâmico. E isso, na América profunda, conta. Como se viu nos Estados em que Hillary ganhou a Obama. O que a Europa não entende é por que é que continua a haver uma fractura enorme na sociedade americana: os pobres brancos costumam votar republicano, os ricos votam democrata. Há um outro nível cultural em disputa: a conservadora Fox contra a liberal Hollywood. Tudo isso germinou nos anos 60, época que a Europa julga ser sinónimo de Kennedy e da libertação sexual. Só que o sul profundo nunca se identificou com a América das cidades onde a violência crescia.
É por isso que Biden é importantíssimo para Obama, mesmo que aos olhos europeus ele seja o protótipo do político que poderia ser o número dois de McCain. Biden será fulcral para Obama ganhar os estados que contam: Michigan, Iowa, Missouri, Minnesota, Pennsylvania e Ohio. Onde a outrora classe média branca está a sofrer na pele a crise económica. E é aí que a economia ganha à sofisticação cultural que a Europa tanto aprecia em Obama. A questão, como definiu Hillary, é se o país está nas lonas, e por isso não se pode dar mais quatro anos a uma política que já dura há oito. E Obama precisa de focar a sua mensagem, em palavras simples e claras, se quiser ganhar. Há cerca de duas semanas perguntaram a Obama se o Mal existia. E se existisse que atitude tomaria: ignorá-lo, contê-lo ou derrotá-lo? Obama respondeu que "deveria ser confrontado", mas deveria "haver humildade", porque "vocês sabem, muito do Mal foi perpretado na convicção de que nós estávamos a confrontar o Mal". McCain, face à pergunta, respondeu simples: "Derrotá-lo". Muita da vulnerabilidade de Obama passa pela sua dificuldade em dar respostas concretas, sem as tentar explicar na teia de interrogações que a cultura de esquerda foi criando ao longo dos anos. E essa não é uma questão desprezível num país onde a cultura WASP está viva, como herdeira da que foi exportada por ingleses, holandeses e alemães para os EUA, através dos emigrantes. E essa é uma questão que os europeus já não entendem."
Fernando Sobral
Hillary forneceu o "slogan" de contra-ataque a Obama, algo que os conselheiros deste ainda não tinham descortinado: "No way. No how. No McCain" (qualquer coisa como: "De jeito nenhum. De maneira nenhuma. Sem McCain". Mas este impulso pode não ser o suficiente para dar algum fôlego a uma campanha que se intrometeu pela imagem de ruptura e que, ultimamente, se está a atirar para os braços dos compromissos. O último foi a escolha do senador Biden para candidato a Vice-Presidente. Compreende-se: com ele, Obama tenta compensar as suas principais vulnerabilidades: inexperiência e ser "de fora". Biden é um político que parece ter acampado em Washington há dezenas de anos, faz parte do "establishment" e também é célebre por uma série de dislates (a série "Boston Legal", no episódio transmitido em Portugal no dia em que ironicamente começava o convívio eleitoral de Denver, gozava com Bush e Biden, devido à semelhança das suas opiniões sobre os chamados afro-americanos). Mas serve para compensar os défices visíveis de Obama na América profunda. Biden sabe falar com os operários, depois é branco (algo que muitos eleitores democratas do sul consideram fundamental – não esqueçamos que o sul sempre foi democrata até ao período das "liberdades políticas", já que o Partido Democrata era muito mais conservador que o Republicano sobre os assuntos rácicos), e assume-se como "um verdadeiro americano". Obama, apesar de ter sido educado em Harvard, ainda é visto como alguém com ligações ao mundo islâmico. E isso, na América profunda, conta. Como se viu nos Estados em que Hillary ganhou a Obama. O que a Europa não entende é por que é que continua a haver uma fractura enorme na sociedade americana: os pobres brancos costumam votar republicano, os ricos votam democrata. Há um outro nível cultural em disputa: a conservadora Fox contra a liberal Hollywood. Tudo isso germinou nos anos 60, época que a Europa julga ser sinónimo de Kennedy e da libertação sexual. Só que o sul profundo nunca se identificou com a América das cidades onde a violência crescia.
É por isso que Biden é importantíssimo para Obama, mesmo que aos olhos europeus ele seja o protótipo do político que poderia ser o número dois de McCain. Biden será fulcral para Obama ganhar os estados que contam: Michigan, Iowa, Missouri, Minnesota, Pennsylvania e Ohio. Onde a outrora classe média branca está a sofrer na pele a crise económica. E é aí que a economia ganha à sofisticação cultural que a Europa tanto aprecia em Obama. A questão, como definiu Hillary, é se o país está nas lonas, e por isso não se pode dar mais quatro anos a uma política que já dura há oito. E Obama precisa de focar a sua mensagem, em palavras simples e claras, se quiser ganhar. Há cerca de duas semanas perguntaram a Obama se o Mal existia. E se existisse que atitude tomaria: ignorá-lo, contê-lo ou derrotá-lo? Obama respondeu que "deveria ser confrontado", mas deveria "haver humildade", porque "vocês sabem, muito do Mal foi perpretado na convicção de que nós estávamos a confrontar o Mal". McCain, face à pergunta, respondeu simples: "Derrotá-lo". Muita da vulnerabilidade de Obama passa pela sua dificuldade em dar respostas concretas, sem as tentar explicar na teia de interrogações que a cultura de esquerda foi criando ao longo dos anos. E essa não é uma questão desprezível num país onde a cultura WASP está viva, como herdeira da que foi exportada por ingleses, holandeses e alemães para os EUA, através dos emigrantes. E essa é uma questão que os europeus já não entendem."
Fernando Sobral
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