Rússia
"A "Economist", alarmada com a recente guerra no Cáucaso, não desarma. E aconselha: o Ocidente não deve fechar as portas da NATO à Geórgia e à Ucrânia. De acordo com a revista, a ameaça russa não pode determinar a política externa de Estados soberanos.
A tese é admirável. Mas, a título de curiosidade, alguém acredita que, se a Geórgia já estivesse na NATO, o Ocidente estaria por esta altura a marchar para o Cáucaso, disposto a enfrentar uma potência nuclear como a Rússia? Às vezes, as regras das relações internacionais não se afastam grandemente do senso comum: é um erro fazer promessas que ninguém tenciona cumprir. A adesão à NATO da Geórgia e da Ucrânia, nula na prática, contribuiria apenas para alimentar, ainda mais, os medos de uma potência paranóica como a Rússia.
Medos que, aliás, têm sido atiçados desde o fim da Guerra Fria. Imitando Versalhes no final da I Guerra Mundial, o Ocidente entendeu que uma Rússia de joelhos não era suficiente; o ideal era alienar as suas antigas "zonas de influência", oferecendo a NATO à Polónia ou à República Checa; convidando a Albânia e a Croácia para o clube; e instalando escudos antimísseis de utilidade duvidosa em território polaco ou checo.
Não admira que, em linguagem de invulgar brutalidade, o n.º 2 do Exército russo tenha ameaçado directamente a Polónia com um ataque nuclear, caso Varsóvia cumpra o pré-acordo assinado com os EUA para o referido escudo. Como não admira que a oferta insensata da Ucrânia para que o Ocidente use os seus radares antimísseis seja um óptimo pretexto para que a Rússia faça na Crimeia o que fez recentemente na Ossétia.
A política não é o reino do ideal; mas do possível. E o possível, no momento presente, é acomodar a Rússia, o que significa não alimentar a sua paranóia e permitir que no seu quadro mental e geoestratégico as antigas "zonas de influência" não sejam coutada exclusiva, e agressiva, de um Ocidente armado. O resto é provocação barata. Uma provocação que, a prazo, pode tornar-se cara."
João Pereira Coutinho
A tese é admirável. Mas, a título de curiosidade, alguém acredita que, se a Geórgia já estivesse na NATO, o Ocidente estaria por esta altura a marchar para o Cáucaso, disposto a enfrentar uma potência nuclear como a Rússia? Às vezes, as regras das relações internacionais não se afastam grandemente do senso comum: é um erro fazer promessas que ninguém tenciona cumprir. A adesão à NATO da Geórgia e da Ucrânia, nula na prática, contribuiria apenas para alimentar, ainda mais, os medos de uma potência paranóica como a Rússia.
Medos que, aliás, têm sido atiçados desde o fim da Guerra Fria. Imitando Versalhes no final da I Guerra Mundial, o Ocidente entendeu que uma Rússia de joelhos não era suficiente; o ideal era alienar as suas antigas "zonas de influência", oferecendo a NATO à Polónia ou à República Checa; convidando a Albânia e a Croácia para o clube; e instalando escudos antimísseis de utilidade duvidosa em território polaco ou checo.
Não admira que, em linguagem de invulgar brutalidade, o n.º 2 do Exército russo tenha ameaçado directamente a Polónia com um ataque nuclear, caso Varsóvia cumpra o pré-acordo assinado com os EUA para o referido escudo. Como não admira que a oferta insensata da Ucrânia para que o Ocidente use os seus radares antimísseis seja um óptimo pretexto para que a Rússia faça na Crimeia o que fez recentemente na Ossétia.
A política não é o reino do ideal; mas do possível. E o possível, no momento presente, é acomodar a Rússia, o que significa não alimentar a sua paranóia e permitir que no seu quadro mental e geoestratégico as antigas "zonas de influência" não sejam coutada exclusiva, e agressiva, de um Ocidente armado. O resto é provocação barata. Uma provocação que, a prazo, pode tornar-se cara."
João Pereira Coutinho
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