sábado, setembro 13, 2008

A Zona

"O preconceito da Esquerda em relação à origem social do crime falhou. O discurso da vitimização e do sentimentalismo apenas exponenciou o problema e a decepção.

A crise económica parece um gato preto em quarto escuro. O Governo agradece o cenário meio pardo e preocupa-se com as difícies contas para o Orçamento de 2009. Entretanto, o país brilha com uma crise de insegurança que alimenta o ciclo informativo e aumenta a ansiedade nacional. As minorias recebem atenção maioritária, os bairros sociais são pontos de reportagem e a população assiste ao circuito de assaltos nocturnos em receptores com imagem digital.

O preconceito da Esquerda em relação à origem social do crime falhou. O discurso da vitimização e do sentimentalismo apenas exponenciou o problema e a decepção. A grande Lisboa é envolvida por uma Zona onde não existe Estado, nem autoridade, nem normas sociais ou regras de convivência. A única linha de vida é a dependência do Estado Social. As armas tornaram-se um modo de vida habitual e percorrem as circulares da grande metrópole. A noite é outra cidade, é uma Zona em que o ressentimento tanto rouba como mata.

O preconceito da Direita também falhou. A Zona que envolve a grande cidade não pode ser o repositório da desfortuna e das más decisões. Exige-se uma atitude política que não se afirme pela inacção e pelo conformismo, patrulhados pela impossível solução da polícia, nem se destaque pelo simples ‘laissez-faire’ económico. Entre o assistencialismo da Esquerda e o liberalismo da Direita, tem de existir um novo “intervencionismo libertário” – uma política que exija a modificação dos comportamentos, por via da persuasão, e em função de um esquema de gratificação ou de suspensão das prestações sociais. Qualquer direito implica sempre um dever exclusivo para com toda a sociedade.

Se em Portugal falta política, no país político é época de “rentrée”. As rosas contam os espinhos e as setas apontam para direcção incerta. O PS prepara-se para combater a Esquerda e o PSD, tudo acondicionado num optimismo em fim de ciclo. Para Sócrates, Portugal é uma bolha que só não implode com nova maioria absoluta. O PSD combate a apatia e a desconfiança, mais a ala populista, o Governo do PS e o discurso bem polido de Sócrates. No íntimo, Manuela Ferreira Leite reza, em silêncio, para que o oásis de Sócrates se afunde na areia macia e que o poder caia do céu como chuva no deserto. No domingo, o silêncio será quebrado.

Em 1960, André Malraux afirmava: “Adoro Portugal porque é o país da irrealidade política”. Alguma objecção?
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Carlos Marques de Almeida

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