quarta-feira, outubro 15, 2008

FÉ E PROGRESSO

"Um destes dias, Bento XVI reafirmou: os contraceptivos negam a essência do amor conjugal. Meio mundo traduziu: Papa volta a proibir os preservativos e condena à morte milhões de católicos.

Enquanto Ratzinger não é julgado em Haia por genocídio, valeria a pena discutir se o sexo desprotegido entre os cônjuges acarreta necessariamente um fim trágico, ou qual a probabilidade de que o sexo desprotegido entre dois estranhos também acabe em desgraça, ou o interesse de gente progressista em salvar as vidas de crédulos.

Sobretudo, vale recordar que a fé católica é hoje uma opção, que implica o cumprimento de certas regras e, caso o catolicismo não bata com fervor, o desrespeito de outras. Ou seja, em última instância um sujeito observa os preceitos da Igreja se quiser. Pode não querer, e aí mantém-se em pecado ou muda-se para religiões tolerantes em matéria sexual (o Islão veio-me à ideia) ou para coisa nenhuma (eu não me tenho dado mal com o ateísmo).

Mas, por estranho que pareça, uma pessoa pode querer adoptar os princípios do Vaticano, e adoptá-los no mesmo contexto de liberdade em que o Vaticano os exprime. Eis o essencial: as pessoas são livres, inclusive de encarar o sexo como meio de procriação. Uma aberração e um perigo? Para determinadas cabeças, com certeza. Outras cabeças, por exemplo, acham as práticas homossexuais igualmente aberrantes e perigosas. Todas têm, felizmente, o direito de achar. Nenhuma tem, felizmente, o direito de entrar de dedo em riste em cama alheia. Ainda que algumas gostassem, e não pelas melhores razões
."

Alberto Gonçalves

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