'FLASHES' DA ESQUERDA MODERNA
"Saramago pergunta onde pára a esquerda. A ideológica, suponho que faleceu há muito. A circense vive em perpétua renovação. Depois das greves de fome, dos piquetes, dos tumultos, das arruadas e dos saltos contra a pobreza ou o que calha, agora há a "flash mob", que consiste na realização de uma acção colectiva, previamente combinada e de curta duração, após a qual os participantes dispersam como se não fosse nada com eles.
Na essência, o método não é inteiramente novo. Recordo o sujeito que, na minha mocidade, praticava exercício similar à porta do liceu, abrindo o sobretudo e expondo a genitália às raparigas. A diferença é que o "flash" era individual ("mob" significa "multidão"), o que abonava em favor da coragem do sujeito e facilitava a acção das autoridades.
Já a "flash mob" de que se fala, e que visa legalizar o casamento gay, obedeceu às regras do género: convocar a maralha a aparecer pela tardinha na esplanada da Brasileira, no Chiado, e, às 19.30 em ponto, escrever num papel "Acesso ao casamento civil", mostrar o papel aos presentes e sair de mansinho. Não duvido que iniciativas assim convençam os envolvidos da capacidade em subverter a "ordem". Aos olhos das pessoas normais, porém, o acto parece simplesmente inútil.
Em primeiro lugar, porque o cidadão comum tem mais preocupações além das "causas fracturantes" e é capaz de não alcançar a referência vaga ao "casamento civil". Em segundo lugar, porque a Brasileira é bastante frequentada por turistas que não entendem português. Em terceiro lugar, porque a considerável percentagem de gays na zona encontra-se convertida. No fim de contas, os manifestantes acabaram a exibir o cartaz uns aos outros e a dispersar de polícias imaginários (a infantilidade não é crime).
Defender os gays no Chiado é uma mariquice pegada. Se os meninos da "flash mob" querem ressuscitar a esquerda e usar a sexualidade alheia para fingir irreverência, deviam parafrasear Kennedy e erguer cartazes com a frase "Somos todos homossexuais" junto a estaleiros da construção civil, fábricas, ajuntamentos de camponeses. E depois sim, teriam óptimas razões para dispersar. O que talvez não tivessem era tempo."
Alberto Gonçalves
Na essência, o método não é inteiramente novo. Recordo o sujeito que, na minha mocidade, praticava exercício similar à porta do liceu, abrindo o sobretudo e expondo a genitália às raparigas. A diferença é que o "flash" era individual ("mob" significa "multidão"), o que abonava em favor da coragem do sujeito e facilitava a acção das autoridades.
Já a "flash mob" de que se fala, e que visa legalizar o casamento gay, obedeceu às regras do género: convocar a maralha a aparecer pela tardinha na esplanada da Brasileira, no Chiado, e, às 19.30 em ponto, escrever num papel "Acesso ao casamento civil", mostrar o papel aos presentes e sair de mansinho. Não duvido que iniciativas assim convençam os envolvidos da capacidade em subverter a "ordem". Aos olhos das pessoas normais, porém, o acto parece simplesmente inútil.
Em primeiro lugar, porque o cidadão comum tem mais preocupações além das "causas fracturantes" e é capaz de não alcançar a referência vaga ao "casamento civil". Em segundo lugar, porque a Brasileira é bastante frequentada por turistas que não entendem português. Em terceiro lugar, porque a considerável percentagem de gays na zona encontra-se convertida. No fim de contas, os manifestantes acabaram a exibir o cartaz uns aos outros e a dispersar de polícias imaginários (a infantilidade não é crime).
Defender os gays no Chiado é uma mariquice pegada. Se os meninos da "flash mob" querem ressuscitar a esquerda e usar a sexualidade alheia para fingir irreverência, deviam parafrasear Kennedy e erguer cartazes com a frase "Somos todos homossexuais" junto a estaleiros da construção civil, fábricas, ajuntamentos de camponeses. E depois sim, teriam óptimas razões para dispersar. O que talvez não tivessem era tempo."
Alberto Gonçalves
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