segunda-feira, outubro 06, 2008

O que o amigo americano exportou...

Os mercados de capitais estão sob pressão.
Hoje, na berlinda, estará o alemão.
As ondas de choque vão propagar-se a nível planetário com impactos negativos nos quatro continentes.
A operação de salvamento do conglomerado financeiro germânico HRE/ Hypo Real Estate tem que ver com a confiança no sistema, a sua capacidade para absorver riscos e evitar rupturas nos segmentos do mercado de dívida.
Na Alemanha, um deles - Pfandbriefemarkt - está avaliado por várias instituições em EUR 900 mil milhões/bilhões (mm/bi). Este mercado transacciona títulos de dívida caucionados.
Centenas de bancos e seguradoras participam nele através de múltiplas operações de refinanciamento.
Governantes e banqueiros sustentam que a falência do grupo HRE é susceptível de desencadear turbulências desestabilizadoras.
Só aquela instituição é responsável por quase 15% daquele segmento, um dos mais volumosos a nível mundial.
Durante décadas o Pfandbriefemarkt foi considerado seguro e moderadamente especulativo. O Estado alemão, as federações e as autarquias, para além das empresas e outras instituições, emitem garantias sobre operações financeiras recorrendo a estes instrumentos derivativos de dívida.
Até agora foram usados pelos investidores como uma aplicação à prova de bala.
No final do período de maturidade de cada título, desde a 2.ª Guerra, não foi registado um incumprimento.
Para o mercado era uma aplicação segura.
Esta confiança está agora em risco.
Boa parte dos títulos hipotecários emitidos pelo Hypo Real Estate foram usados em «securitizações» de alto risco, importadas e reexportadas em modelos anglo-americanos de produtos estruturados - CDO’s, ABS’s, MBS’s, SIV, Jumbo, etc.).
A orgia subprime lançou uma núvem de suspeição sobre a sua segurança e sustentabilidade. A intervenção do governo alemão e da indústria financeira na salvação do moribundo HRE, tem que ver com isto.
O governo de Berlim considera estratégico não deixar secar um mercado eficaz, que vale quase um milhão de biliões - um trilhão - de euros.
Mais.
A Sra. Merkel garantiu a segurança dos depósitos através da emissão de uma garantia federal no valor de EUR 568 mm/bi.
A intervenção estatal é feita através de títulos e não de dinheiro fresco.
Se adicionarmos àquele valor, 49% dos EUR 50 mm/bi concedidos para evitar a falência do HRE, temos que o Estado alemão, durante um fim-de-semana, passou a ser responsável por dívidas superiores às cobertas pelo Plano Paulson norte-americano.
Mais concretamente, Berlim assumiu o risco de cobrir o equivalente a USD 804 827 milhões (EUR 593 mm/bi).
Em 2009, é provável que encargos do mesmo tipo sobrecarreguem ainda mais o já stressado orçamento alemão. Ninguém sabe ao certo. Os prognósticos são reservados.
Certo é que, o caso Hypo Real Estate equivale apenas a um problema, protagonizado por uma instituição.
Como vai ser quando outros operadores, de dimensão idêntica, forem atingidos?
O governo da Sra. Merkel vai emitir mais garantias?
E quando for necessário o dinheiro para liquidar as dívidas?
Vai emitir mais dívida pública? Mas, não existe um Pacto de Estabilidade e Crescimento que limita a capacidade de endividamento dos Estados membros da UE?
Ou será que os políticos alemães vão adoptar a modalidade norte-americana de “pedir” ao banco central que ponha as rotativas a trabalhar a todo o gás para emitir mais papel-moeda?
Como se trata da divisa comum aos Estados da Zona Euro, estas são questões que justificam a reacção de pânico de muitos depositantes que, este fim-de-semana, sacaram tudo o que podiam das suas contas.
O movimento só parará quando regressar a confiança nas instituições. A crise de confiança institucional é a quadratura do círculo.
Nela tropeça a chanceler federal, Angela Merkel.
Se cair, vamos todos atrás.
MRA Dep. Data Mining
Pedro Varanda de Castro

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