EX.MA SRA. ANA SARA BRITO,
"Soube, através dos jornais, que V. Exa. é desde 2007 a responsável pelo pelouro da Habitação na Câmara Municipal de Lisboa. Também soube, através deste mesmo jornal, que a autarquia a que V. Exa. pertence tem por hábito arranjar casa, decente e a preços muito módicos, a conhecidos que assim o pretendam. Parece que se os conhecidos forem políticos, artistas ou jornalistas mais fácil se torna o processo.
V. Exa. estará ao corrente da situação, já que, à semelhança de centenas ou de milhares, beneficiou de domicílio nas condições referidas durante duas décadas, do qual só abdicou no ano transacto porque, devido à "ética" (cito), não queria ser "senhoria de si própria". Tratou-se apenas, portanto, de uma espécie de conflito ontológico e não da constatação de uma ilegalidade. Segundo insiste V. Exa., com o apoio de outros ilustres lisboetas, não há ilegalidade nenhuma em auferir de uma reforma de 3350 euros e pagar uma renda de 146 pelo T1 na rua do Salitre que o falecido eng. Abecassis entendeu dispensar-lhe.
Legal ou não, há quem ache isto uma vergonha e um insulto aos contribuintes. Eu acho uma bênção. V. Exa. justifica a requisição inicial do T1 com "motivos pessoais". Por acaso, são motivos pessoalíssimos que me levam a precisar de uma casinha do género na capital, a que às vezes desço em trabalho ou lazer. A diária de um hotel decente anda pelo custo do mês inteiro em residência patrocinada pela CML, e ainda que não me queixe do salário, percebe-se que os rendimentos não são para aqui chamados.
Donde venho por este meio pedir a V. Exa., que em boa hora recusou demitir-se, a cedência de um apartamento em local que me alivie a bolsa e a vida. O da rua do Salitre, agora vago, serve perfeitamente. E o problema da utilização ocasional da casa não se põe: V. Exa. saberá do director municipal que não utiliza de todo a que a autarquia lhe ofereceu, mantendo-a de reserva para, volto a citar, quando se divorciar.
Credenciais? É verdade que não sou político e as aguarelas que arrisquei na juventude não me atribuem o estatuto de artista. Mas julgo que as crónicas regulares na imprensa me concedem um estatuto próximo do de jornalista, critério que facilitará a decisão. Além disso, confesso tratar por tu o chefe de gabinete de S. Exa., o sr. presidente da Câmara, visto que somos conterrâneos e temos amigos comuns.
E juro: se daqui a vinte ou quarenta anos um milagre me eleger para o cargo que V. Exa. hoje tão competentemente ocupa, prometo que renunciarei sem queixumes à regalia. Senhorio de mim próprio, nunca. Por causa da ética ou lá o que é. Aguardo resposta. Atenciosamente, A.G."
Alberto Gonçalves
V. Exa. estará ao corrente da situação, já que, à semelhança de centenas ou de milhares, beneficiou de domicílio nas condições referidas durante duas décadas, do qual só abdicou no ano transacto porque, devido à "ética" (cito), não queria ser "senhoria de si própria". Tratou-se apenas, portanto, de uma espécie de conflito ontológico e não da constatação de uma ilegalidade. Segundo insiste V. Exa., com o apoio de outros ilustres lisboetas, não há ilegalidade nenhuma em auferir de uma reforma de 3350 euros e pagar uma renda de 146 pelo T1 na rua do Salitre que o falecido eng. Abecassis entendeu dispensar-lhe.
Legal ou não, há quem ache isto uma vergonha e um insulto aos contribuintes. Eu acho uma bênção. V. Exa. justifica a requisição inicial do T1 com "motivos pessoais". Por acaso, são motivos pessoalíssimos que me levam a precisar de uma casinha do género na capital, a que às vezes desço em trabalho ou lazer. A diária de um hotel decente anda pelo custo do mês inteiro em residência patrocinada pela CML, e ainda que não me queixe do salário, percebe-se que os rendimentos não são para aqui chamados.
Donde venho por este meio pedir a V. Exa., que em boa hora recusou demitir-se, a cedência de um apartamento em local que me alivie a bolsa e a vida. O da rua do Salitre, agora vago, serve perfeitamente. E o problema da utilização ocasional da casa não se põe: V. Exa. saberá do director municipal que não utiliza de todo a que a autarquia lhe ofereceu, mantendo-a de reserva para, volto a citar, quando se divorciar.
Credenciais? É verdade que não sou político e as aguarelas que arrisquei na juventude não me atribuem o estatuto de artista. Mas julgo que as crónicas regulares na imprensa me concedem um estatuto próximo do de jornalista, critério que facilitará a decisão. Além disso, confesso tratar por tu o chefe de gabinete de S. Exa., o sr. presidente da Câmara, visto que somos conterrâneos e temos amigos comuns.
E juro: se daqui a vinte ou quarenta anos um milagre me eleger para o cargo que V. Exa. hoje tão competentemente ocupa, prometo que renunciarei sem queixumes à regalia. Senhorio de mim próprio, nunca. Por causa da ética ou lá o que é. Aguardo resposta. Atenciosamente, A.G."
Alberto Gonçalves
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