A gestão do emprego
"Sendo o desemprego o que é, deveria estar no centro do debate político. Não está, porque se privilegia a inflação.
Quando os opositores ao Governo têm falta de assunto, o desemprego é uma boa válvula de escape: “Ó senhor primeiro-ministro, como vão os 150 mil novos empregos?”. E riem, riem muito… Confesso que não aprecio esta política-folclore. Mas o desemprego preocupa-me. É mesmo dos fenómenos que emocionalmente mais me perturbam. Daí que seja um tema recorrente nestas lucubrações jornalísticas.
Dúvida de fundo: por que é que o desemprego existe e está a subir? Há uma resposta simplista: porque a economia não cria empregos ao ritmo do crescimento da população activa, seja nacional ou de imigração Mas, se é assim, há mão-de-obra disponível que o país não aproveita. Ou, recorrendo à linguagem económica: o PIB efectivo é inferior ao PIB potencial, o que significa desperdício. Os números confirmam: a partir da recessão de 2003, sempre crescemos abaixo do que os factores de produção justificariam.
Conviver com desperdícios não abona a favor de ninguém. As razões serão múltiplas, mas todas convergem num ponto comum: ausência de competitividade. Os nossos preços são altos, quando comparados com os da concorrência. Sucede que os salários são o elemento que mais pesa na formação destes preços, o que leva os economistas a concluir por algo que deixa os sociólogos em polvorosa: é possível trocar mais emprego por menos salário! Contraponto inevitável: também se ganha competitividade baixando os lucros…
Sendo o desemprego o que é, deveria estar no centro do debate político. Não está, porque se privilegia a inflação. Vejam-se as declarações recentes do presidente do BCE: é a inflação que está a impedir a baixa das taxas de juro. Ainda assim, é curiosa a correlação negativa entre a inflação e o desemprego. Imagine-se um desemprego muito baixo: cresce a pressão sobre os salários, dos salários transfere-se para os preços e a inflação sobe. Agora um desemprego muito alto: os trabalhadores exigem menos, os custos diminuem e a inflação desce. Algures, entre ambos, está o chamado desemprego estrutural: nem alto nem baixo, apenas do exacto valor que assegura a estabilidade de preços.
Este desemprego específico, a que num certo sentido se poderá chamar desemprego “ideal”, varia no espaço e no tempo. Admito que, entre nós, ande hoje pela casa dos 6% da população activa. É o momento de os sindicatos se indignarem: desemprego ideal? 6%? O cronista ensandeceu.
Temas para reflexão. 1) Ainda que a taxa de desemprego justifique o máximo cuidado, a teoria económica sugere que o objectivo não deve ser um desemprego alto ou baixo, mas um desemprego estável em termos de preços. 2) As taxas de desemprego ultimamente registadas, da ordem dos 8%, são de facto muito altas, mas não tão altas quanto se pretende fazer crer. 3) É imperioso aumentar o PIB potencial, e transformá-lo em PIB efectivo, única forma de o desemprego poder ter solução.
Os 150 mil novos empregos vão ser atingidos? Não sei. Mas admito que sim: quem criou 134 mil até agora também pode criar mais 16 mil até ao fim da legislatura. Sócrates dará, se necessário, uma forcinha, em nome da honra. O problema é que, a ser assim, será um péssimo sinal. Com a economia estagnada, eventuais migalhas que surjam deveriam evitar o emprego e associar-se à produtividade."
Daniel Amaral
Quando os opositores ao Governo têm falta de assunto, o desemprego é uma boa válvula de escape: “Ó senhor primeiro-ministro, como vão os 150 mil novos empregos?”. E riem, riem muito… Confesso que não aprecio esta política-folclore. Mas o desemprego preocupa-me. É mesmo dos fenómenos que emocionalmente mais me perturbam. Daí que seja um tema recorrente nestas lucubrações jornalísticas.
Dúvida de fundo: por que é que o desemprego existe e está a subir? Há uma resposta simplista: porque a economia não cria empregos ao ritmo do crescimento da população activa, seja nacional ou de imigração Mas, se é assim, há mão-de-obra disponível que o país não aproveita. Ou, recorrendo à linguagem económica: o PIB efectivo é inferior ao PIB potencial, o que significa desperdício. Os números confirmam: a partir da recessão de 2003, sempre crescemos abaixo do que os factores de produção justificariam.
Conviver com desperdícios não abona a favor de ninguém. As razões serão múltiplas, mas todas convergem num ponto comum: ausência de competitividade. Os nossos preços são altos, quando comparados com os da concorrência. Sucede que os salários são o elemento que mais pesa na formação destes preços, o que leva os economistas a concluir por algo que deixa os sociólogos em polvorosa: é possível trocar mais emprego por menos salário! Contraponto inevitável: também se ganha competitividade baixando os lucros…
Sendo o desemprego o que é, deveria estar no centro do debate político. Não está, porque se privilegia a inflação. Vejam-se as declarações recentes do presidente do BCE: é a inflação que está a impedir a baixa das taxas de juro. Ainda assim, é curiosa a correlação negativa entre a inflação e o desemprego. Imagine-se um desemprego muito baixo: cresce a pressão sobre os salários, dos salários transfere-se para os preços e a inflação sobe. Agora um desemprego muito alto: os trabalhadores exigem menos, os custos diminuem e a inflação desce. Algures, entre ambos, está o chamado desemprego estrutural: nem alto nem baixo, apenas do exacto valor que assegura a estabilidade de preços.
Este desemprego específico, a que num certo sentido se poderá chamar desemprego “ideal”, varia no espaço e no tempo. Admito que, entre nós, ande hoje pela casa dos 6% da população activa. É o momento de os sindicatos se indignarem: desemprego ideal? 6%? O cronista ensandeceu.
Temas para reflexão. 1) Ainda que a taxa de desemprego justifique o máximo cuidado, a teoria económica sugere que o objectivo não deve ser um desemprego alto ou baixo, mas um desemprego estável em termos de preços. 2) As taxas de desemprego ultimamente registadas, da ordem dos 8%, são de facto muito altas, mas não tão altas quanto se pretende fazer crer. 3) É imperioso aumentar o PIB potencial, e transformá-lo em PIB efectivo, única forma de o desemprego poder ter solução.
Os 150 mil novos empregos vão ser atingidos? Não sei. Mas admito que sim: quem criou 134 mil até agora também pode criar mais 16 mil até ao fim da legislatura. Sócrates dará, se necessário, uma forcinha, em nome da honra. O problema é que, a ser assim, será um péssimo sinal. Com a economia estagnada, eventuais migalhas que surjam deveriam evitar o emprego e associar-se à produtividade."
Daniel Amaral
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