sábado, outubro 11, 2008

Há socialistas na sala?

"A queda da teologia do mercado não suscitou nada de novo, apenas reavivou a teologia do Estado.

A alegria pela crise financeira internacional supera qualquer receio quanto à gravidade das consequências imediatas ou previsíveis. Subitamente, os deserdados à Esquerda voltam-se em êxtase para o Estado. A queda da teologia do mercado não suscitou nada de novo, apenas reavivou a teologia do Estado. A crise da economia liberal não provocou o regressso da discussão política, nem originou a reabertura do mercado das ideias. Na realidade, o paradigma liberal domina ainda em tempo de crise.

Esta resiliência da economia liberal nunca foi entendida pelos seus inimigos políticos. Ao projectarem sobre o modelo liberal uma matriz dogmática e fechada, apenas expõem a fragilidade política das ideias que defendem. Primeiro, a economia liberal não é um estado final, mas sim um processo. Segundo, a economia liberal não é um sistema, mas sim uma ideia em movimento. Ao contrário do que estabelece a crítica socialista, a economia liberal alimenta-se das contradições e das crises. O progresso não existe no segredo de uma teoria infalível. O progresso resulta de um processo de tentativa e de erro, na ausência de uma utopia final, mas com o objectivo da correcção dos excessos e da definição de regras gerais ajustadas à realidade. A economia liberal não descobriu o segredo da estabilidade, nem existe com base em regras rigidamente estabelecidas de uma vez para todo o sempre.

No entanto, existe na crise financeira internacional um facto curioso que merece ser sublinhado. Inesperadamente, os indivíduos deixaram de olhar para a economia liberal como um modo de participação no grande movimento do progresso comum. Em vez da exigência da liberdade e da responsabilidade, os indivíduos passaram a interpretar os resultados do mercado enquanto satisfação de um conjunto de direitos. O crédito abundante e a percepção de um capitalismo popular permitiram todas as ilusões sem a sombra de qualquer risco. Este plano inclinado perdurou nos últimos trinta anos, com maiores ou menores oscilações, para finalmente vir a transformar-se no abismo da actual crise internacional. De certo modo, o sucesso da economia liberal está na origem da crise da economia liberal.

Em 1945, George Orwell escrevia que “O Homem é a única criatura que consome sem produzir”. Se é em tempo de dificuldade que a História se move, os séculos também têm por hábito desrespeitar o calendário dos Homens. Ironicamente, o capitalismo do século XXI pode finalmente começar
."

Carlos Marques de Almeida

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