A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CIGARRA E DA FORMIGA
"António Costa deveria ter lido as Fábulas de La Fontaine com mais atenção. Na tradução de Bocage, A Cigarra e a Formiga principia assim: "Tendo a cigarra em cantigas/ Folgado todo o Verão,/ Achou-se em penúria extrema/ Na tormentosa estação." Se António Costa reclama para si o trabalho de formiga, atribuindo a Pedro Santana Lopes o papel de cigarra, há aqui uma contradição perigosa, para não dizer comprometedora: quem está na "penúria extrema", estrangulado por uma dívida homérica, é o actual presidente da Câmara de Lisboa. Santana Lopes, esse, anda por aí a cantar alegremente. Ele até pode ser cigarra - mas cigarra de barriga cheia.
A questão, então, está em como pode uma formiga combater uma cigarra cuja única fome é a de protagonismo. Bem pode António Costa pregar que a dívida que ele tão devotamente tem combatido é, em boa parte, culpa das cigarrices de Santana. Infelizmente para ele, falar em rigor orçamental ou em controlo do défice nos dias que correm já não entusiasma nem o mais dedicado contabilista. Sendo o presidente em exercício, cabe a Costa ultrapassar a "tormentosa estação" e mostrar o que andou a fazer no seu mandato. Ora, se ele não conseguir fazer uma aliança à esquerda, se Helena Roseta avançar com uma candidatura independente (ainda por cima com o apoio do Bloco) e se o PSD e o CDS/PP unirem esforços em Lisboa, a sua vitória pode, de facto, estar comprometida. João Soares tinha uma obra infinitamente maior para apresentar e perdeu para Santana, utilizando também o falhadíssimo argumento formigante. Costa que se precate: não só tem escassíssima obra visível (o episódio anedótico do Cais das Colunas desentaipado por três semanas é sintomático da impotência da câmara) como, ainda por cima, se enfiou voluntariamente em dois buracos políticos que o tornam alvo fácil em campanha.
Um deles é o apoio declarado de José Sá Fernandes, que Costa gostaria de apresentar como um convertido aos seus encantos políticos mas que mais depressa será acusado de vender as suas convicções por um tacho na câmara - e que ainda por cima irá colar o PS ao embargo do Túnel do Marquês, obra que é mérito de Santana e que qualquer lisboeta hoje em dia considera imprescindível. A outra asneira foi ter-se colocado, de forma apressada e acrítica, ao lado do Porto de Lisboa e de Jorge Coelho na questão do terminal de Alcântara, um projecto mais do que duvidoso que permitirá à oposição colocar-se do lado dos "lisboetas", contra aqueles que só pensam em "interesses alheios". É um bocado primário como argumento? Até pode ser que sim. Mas dá uma bela canção na voz de uma cigarra."
João Miguel Tavares
A questão, então, está em como pode uma formiga combater uma cigarra cuja única fome é a de protagonismo. Bem pode António Costa pregar que a dívida que ele tão devotamente tem combatido é, em boa parte, culpa das cigarrices de Santana. Infelizmente para ele, falar em rigor orçamental ou em controlo do défice nos dias que correm já não entusiasma nem o mais dedicado contabilista. Sendo o presidente em exercício, cabe a Costa ultrapassar a "tormentosa estação" e mostrar o que andou a fazer no seu mandato. Ora, se ele não conseguir fazer uma aliança à esquerda, se Helena Roseta avançar com uma candidatura independente (ainda por cima com o apoio do Bloco) e se o PSD e o CDS/PP unirem esforços em Lisboa, a sua vitória pode, de facto, estar comprometida. João Soares tinha uma obra infinitamente maior para apresentar e perdeu para Santana, utilizando também o falhadíssimo argumento formigante. Costa que se precate: não só tem escassíssima obra visível (o episódio anedótico do Cais das Colunas desentaipado por três semanas é sintomático da impotência da câmara) como, ainda por cima, se enfiou voluntariamente em dois buracos políticos que o tornam alvo fácil em campanha.
Um deles é o apoio declarado de José Sá Fernandes, que Costa gostaria de apresentar como um convertido aos seus encantos políticos mas que mais depressa será acusado de vender as suas convicções por um tacho na câmara - e que ainda por cima irá colar o PS ao embargo do Túnel do Marquês, obra que é mérito de Santana e que qualquer lisboeta hoje em dia considera imprescindível. A outra asneira foi ter-se colocado, de forma apressada e acrítica, ao lado do Porto de Lisboa e de Jorge Coelho na questão do terminal de Alcântara, um projecto mais do que duvidoso que permitirá à oposição colocar-se do lado dos "lisboetas", contra aqueles que só pensam em "interesses alheios". É um bocado primário como argumento? Até pode ser que sim. Mas dá uma bela canção na voz de uma cigarra."
João Miguel Tavares
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home