sexta-feira, janeiro 16, 2009

VERMO-NOS QUASE GREGOS

"Se bem percebi, a história é a seguinte. Na Amadora, cinco amigos roubaram um carro, que a família de um deles jura ser abandonado. Pouco depois, o passeio viu-se enriquecido com um automóvel cheio de polícias à paisana. Os polícias perseguiram os amigos até os encurralar. Um dos perseguidos, rapaz dos seus 14 anos, puxou de um revólver, que a família jura que ele não possuía. Um dos polícias entrou na brincadeira e disparou antes. O rapaz foi atingido e acabou por morrer. A família jura tratar-se de um moço pacato, que, cito, "não se metia com ninguém". Os arquivos da PSP juram que o rapaz tinha razoável currículo de crimes e violência.

Perante isto, restavam duas alternativas. A primeira era a legalista, que confia o esclarecimento do caso às vias burocráticas e aborrecidas. A segunda era a grega, que consiste em convocar por sms jovens solidários com o falecido, realizar manifestações de desafio à prepotência das forças da ordem, berrar slogans contra a opressão exercida pelas forças da ordem, lançar pedras e explosivos sobre as forças da ordem, incendiar carros, arrasar propriedade imobiliária, culpar o genérico "sistema" pelo assassínio "a sangue frio" de um inocente, celebrar a Revolução irreversível e o desmoronamento do capitalismo e, em suma, impor o caos durante semanas a fio.

Nenhuma das alternativas conseguiria determinar em absoluto se houve ou não excesso policial, nenhuma conseguiria ressuscitar o morto. Mas a segunda aliviaria muito mais, e se há para aí inúmeras criaturas sedentas de alívio, sucedeu estarem quase todas concentradas, simbólica e literalmente, no insulto a Israel. Uma indignação livrou-nos da outra, ainda que os jornalistas agredidos no enterro do moço pacato não possam dizer o mesmo
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Alberto Gonçalves

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