AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
"No Connecticut, EUA, dois polícias abateram a tiro um chimpanzé que matara um homem. O New York Post publicou um cartoon da cena, no qual um dos polícias afirma: "Agora terão de arranjar outro qualquer para escrever o novo plano de estímulo económico." Isto bastou para que os indignados do costume criticassem a comparação (?) do chimpanzé com Barack Obama e gritassem "racismo". O New York Post e o proprietário, Rupert Murdoch, pediram desculpa aos ofendidos.
Obama foi um deles? Não se sabe. Se não é provável que a censura informal da piada tenha vindo directamente da Casa Branca, é plausível que o avanço dos censores reflicta um contexto propício. Muitas vezes, o chefe não precisa de dizer nada para que a sua vontade se cumpra. No tempo de Bush, entre graçolas de todos os géneros e violências, o presidente viu-se explícita e frequentemente retratado como um macaco sem que o facto ofendesse alguém, e o argumento de que Bush é branco só convence os próprios racistas.
A cor é apenas parte do problema. A histeria ligeiramente fanática suscitada pela ascensão de Obama é outra parte. O silêncio da presidência perante os excessos de zelo será uma terceira. Tudo somado, obtém-se um clima adequado à vigilância, um ar dos tempos que instiga, facilita e, em última instância, permite os mais extremos melindres. Afinal, a "mudança" não era palavra vã: a polémica alusiva a uma capa da New Yorker, ainda durante a campanha, já provara que nos EUA o clima não favorece brincadeiras com Obama.
Nenhuma novidade. Em Portugal, há um par de anos que também se sente um clima propício à censura de brincadeiras com o particular senhor que nos governa. E também aqui não se percebe até que ponto a condenação de anedotas privadas, desconsiderações públicas, notícias desagradáveis e insolências em geral provêm do chefe em pessoa ou de obscuros serviçais empenhados em agradar- -lhe. Às vezes, nem se percebe a relação das insolências com o poder: se, no episódio de Torres Vedras, havia uma profanação óbvia do sacrossanto computador Magalhães, é complicado identificar o que, além da castidade da PSP de Braga, era profanado por uma vagina pintada a óleo (por Gustave Courbet, explicaram logo milhares de peritos no realismo francês).
Mas é assim: quando se tomam as dores de quem manda, num ápice estamos a confundi- -las com as nossas. Esse é o problema do tal clima, que toda a gente sabe como começa e ninguém, nem o chefe, sabe como acaba. A climatologia é uma ciência incerta."
Alberto Gonçalves
Obama foi um deles? Não se sabe. Se não é provável que a censura informal da piada tenha vindo directamente da Casa Branca, é plausível que o avanço dos censores reflicta um contexto propício. Muitas vezes, o chefe não precisa de dizer nada para que a sua vontade se cumpra. No tempo de Bush, entre graçolas de todos os géneros e violências, o presidente viu-se explícita e frequentemente retratado como um macaco sem que o facto ofendesse alguém, e o argumento de que Bush é branco só convence os próprios racistas.
A cor é apenas parte do problema. A histeria ligeiramente fanática suscitada pela ascensão de Obama é outra parte. O silêncio da presidência perante os excessos de zelo será uma terceira. Tudo somado, obtém-se um clima adequado à vigilância, um ar dos tempos que instiga, facilita e, em última instância, permite os mais extremos melindres. Afinal, a "mudança" não era palavra vã: a polémica alusiva a uma capa da New Yorker, ainda durante a campanha, já provara que nos EUA o clima não favorece brincadeiras com Obama.
Nenhuma novidade. Em Portugal, há um par de anos que também se sente um clima propício à censura de brincadeiras com o particular senhor que nos governa. E também aqui não se percebe até que ponto a condenação de anedotas privadas, desconsiderações públicas, notícias desagradáveis e insolências em geral provêm do chefe em pessoa ou de obscuros serviçais empenhados em agradar- -lhe. Às vezes, nem se percebe a relação das insolências com o poder: se, no episódio de Torres Vedras, havia uma profanação óbvia do sacrossanto computador Magalhães, é complicado identificar o que, além da castidade da PSP de Braga, era profanado por uma vagina pintada a óleo (por Gustave Courbet, explicaram logo milhares de peritos no realismo francês).
Mas é assim: quando se tomam as dores de quem manda, num ápice estamos a confundi- -las com as nossas. Esse é o problema do tal clima, que toda a gente sabe como começa e ninguém, nem o chefe, sabe como acaba. A climatologia é uma ciência incerta."
Alberto Gonçalves
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