quarta-feira, abril 15, 2009

Accionistas portugueses tentaram vender SLN ao grupo Carlyle

Joaquim Coimbra, empresário e um dos maiores accionistas da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), afirmou ontem na comissão de inquérito parlamentar que, após a saída de Oliveira Costa, desenvolveu contactos junto do representante da Carlyle em Portugal para a venda do grupo aos americanos, noticia o Correio da Manhã, na edição online.
“Após a saída fui interveniente no processo Carlyle”, explicou Joaquim Coimbra.
“Em finais de Fevereiro, fui contactado pelo representante da Carlyle em Portugal para uma reunião”, contou o empresário à comissão parlamentar, acrescentando ter estado “numa reunião com o sr. Almiro Silva [accionista] e com o representante da Carlyle” onde foram referidos os “contactos que tinha tido com o dr. Oliveira Costa”. “Informou-nos que a Carlyle poderia voltar a estar interessada nas negociações”, disse Joaquim Coimbra.
O accionista confirmou ainda que “a Carlyle representava um grupo de investidores angolanos, cuja proposta tinha um plano estratégico”.
Segundo Coimbra, “a aquisição passava por 40% ou mais, se os accionistas o entendessem”. “Foi-nos informado que as autoridades portuguesas tinham conhecimento do negócio”, afirmou o empresário, sublinhando que a Carlyle lhes comunicou que “havia a necessidade de fazer uma auditoria” ao grupo, a qual deveria ser feita pelo Morgan Stanley ou pelo banco UBS, acrescenta o CM.
“O presidente da Carlyle prontificava-se a vir falar com o Banco de Portugal e com as autoridades portuguesas”, disse Joaquim Coimbra, garantindo que “ficou acordado que o Conselho de Administração daria início a um processo negocial”.
O accionista diz ter ouvido queixas da Carlyle sobre a falta de andamento do processo de venda, mas explicou desconhecer as razões práticas que impediram o negócio. “Foi um processo que demorou algum tempo e que por razões que desconheço, porventura de conjuntura ou das auditorias que levariam muito tempo, da situação provisória do dr. Vakil ou até talvez a pressão exercida pelo Banco de Portugal exercida nos meses de Maio e Abril, não tenham feito andar o negócio.”
Joaquim Coimbra revelou ainda aos deputados só ter tido conhecimento do Banco Insular no dia 12 de Fevereiro, na reunião da Comissão de Avaliação e Nomeações que ditou a saída de Oliveira e Costa do grupo. Segundo o empresário, foi nesta reunião que, além do Insular, os accionistas tiveram conhecimento dos activos imobiliários não registados nas contas do grupo, do uso de testas de ferro e do buraco financeiro da instituição.
“Quando o dr. Oliveira Costa disse que o problema era o BI achávamos que lhe faltava o Bilhete de Identidade, afinal era o dito buraco”, afirmou Joaquim Coimbra.
O accionista disse ainda que lhes foi assegurado que o buraco financeiro “não atingiria os 150 milhões de euros e que tinha cobertura”, conclui o jornal, sem contudo fornecer detalhes sobre a multinacional estadunidense.
O que é o Grupo Carlyle?
É uma das maiores empresas de equity capital (capital de risco) do mundo, com profundas ligação à CIA e ao complexo industrial-militar norte-americano.
O antigo embaixador dos Estados Unidos em Portugal, durante o Verão Quente de 1974, Frank Carlucci, ex-director geral da CIA e ex-secretário da Defesa na segunda administração Reagan, presidiu aos destinos do grupo entre 1989 e 2005. O Grupo Carlyle é o actual proprietário do célebre outlet de Alcochete - Freeport.
O conglomerado é um grupo discreto mas poderoso que gere aplicações de grandes empresas, fundos de pensões e parte das fortunas de alguns multimilionários globais.
Entre eles, contou-se o grupo de construção saudita Binladin Group, propriedade da família do famigerado Osama bin Laden.
Não está cotado em Bolsa, apenas presta contas aos seus 550 investidores e gere recursos superiores a USD 90 mil milhões/bilhões, aplicados nos sectores da defesa, indústria espacial, sistemas de segurança, tecnologias de informação e telecomunicações, biotecnologia e nanotecnologias.
A jóia da coroa United Defense Industries, 11º fornecedor do Pentágono - mísseis, blindados, veículos de transporte e sofisticados sistemas de segurança e detecção - foi vendida em 2004 à britânica BAE por USD 4 mm/bi, mas o grupo continua muito activo no sector, através de participações cruzadas, directas e indirectas.
A esmagadora maioria das empresas que controla são fornecedores qualificados dos governos e administrações dos mais de 20 países onde actua.
Em uma das suas brochuras institucionais pode ler-se: “ Investimos nas oportunidades criadas nas indústrias fortemente afectadas pelas mudanças de política governamental ”.
Por esta razão, não admira que os seus associados constituam uma verdadeira lista
“Quem é Quem” no mundo dos negócios e da política global:

George H. W. Bush, antigo vice-presidente (1981-1989) e presidente dos EUA (1989-1993); Desempenhou funções de “Consultor Sénior” na Carlyle Asia entre 1998-2003);

George W. Bush, ex-governador do Texas e presidente dos EUA (2001-2009). Antes de chegar ao poder no Texas foi consultor de uma das empresas do grupo Caterair (1990-1992);

James Baker III, ex-secretário de Estado na administração George H. W. Bush;

Henry Paulson Jr., ex-secretário do Tesouro na administração George W. Bush, responsável pelos primeiros programas de salvação da indústria financeira dos EUA e ex-presidente do banco Goldman Sachs, é a mais recente aquisição do grupo .

Richard Darman, ex-director do U.S. Office of Management and Budget na administração George H. W. Bush, ocupa funções de “Consultor Sénior” e de “Administrador Executivo”, desde 1993;

Allan Gotlieb, antigo embaixador canadiano nos EUA (1981-1989), é membro do conselho consultivo no Canadá;

Arthur Levitt, presidente do regulador da bolsa Securities and Exchange Commission (SEC), durante a administração Clinton, é “Conselheiro Sénior” desde 2001;

Peter Lougheed - Primeiro-ministro do Estado de Alberta, Canadá (1971-85);

Luis Téllez Kuenzler, antigo secretário de estado das Comunicações e Transportes e da energia do México;

Mack McLarty, antigo chefe da Casa Civil (White House Chief of Staff) durante a administração Clinton (1993-1994), é “Consultor Sénior” desde 2003;

John Major, antigo primeiro-ministro de Inglaterra, presidiu à Carlyle Europe (2002-2005);

Liu Hong-Ru, antigo presidente da CMVM da China; “Consultor Sénior”

Anand Panyarachun, ex-primeiro-ministro da Tailândia; “Consultor Sénior”;

Thaksin Shinawatra, primeiro-ministro deposto da Tailândia, demitiu-se do cargo de “Consultor Sénior”, em 2001, quando chegou ao poder; Actualmente no exílio, nas Bahamas e na China, inspira as actuais manifestações populares que exigem a demissão do governo tailandês;

Fidel Ramos, ex-presidente das Filipinas, foi “Consultor Sénior até 2004;

Olivier Sarkozy, meio-irmão do presidente francês Nicolas Sarkozy, desde Março de 2008, dirige a divisão de serviços financeiros globais do grupo;

Karl Otto Pöhl, ex-presidente do banco central alemão Bundesbank e do banco de investimento Oppenheimer Bank; “Consultor Sénior”;

Jason Chang, fundador e presidente do ASE Group, de Taiwan, é um dos 20 homens mais ricos do país; “Consultor Sénior”;

Laurent Beaudoin, CEO do grupo canadiano Bombardier desde 1979; “Consultor Sénior”;

David Moffett - CEO do pré-falido conglomerado imobiliário norte-americano Freddie Mac; “Consultor Sénior”;

Norman Pearlstine, editor-chefe da revista norte-americana Time (1995-2005), é “Consultor Sénior”;

A estes podem ainda juntar-se os nomes do general na reserva e ex-secretário de Estado, Colin Powel, o ex-secretário da defesa Caspar Weinberger e alguns filhos e familiares chegados de outros altos dignitários estadunidenses.

Negócios e casos
O Carlyle é um modelo construído à escala planetária com base na gestão de relações pessoais, onde as acções de lóbi e tráfico de influências assumem papel preponderante.
“Não é possível estar mais próximo da administração do que está a Carlyle”, afirmou ao “Le Monde, em 2003, Charles Lewis, director do Centro para a Integridade Pública, uma ONG de Washington. “George Bush, pai, ganhou dinheiro proveniente de interesses privados que trabalham para o governo do qual o filho é presidente. Poder-se-á mesmo dizer que o presidente virá um dia a beneficiar financeiramente, por via dos investimentos do pai, das decisões políticas que tomou”, acrescentou.
O projecto Carlyle nasceu em 1987 com 5 milhões de dólares de capital. Os seus fundadores, quatro juristas com ligações ao Congresso e à Casa Branca queriam aproveitar uma falha na legislação tributária, que permitia às sociedades detidas por esquimós, no Alasca, a vender passivos a empresas interessadas em reduzir a carga fiscal.
Carlucci, um dos íntimos do influente Donald Rumsfeld - gestor, político e ex-chefe do Pentágono - foi o arquitecto do modelo de negócio que colocaria a Carlyle na alta roda dos negócios globais. Os seus inimigos apelidaram a fórmula de OPM - Other People’s Money - por usar dinheiro alheio para comprar favores e influências em negócios obscuros, duvidosos e, não raras vezes, ilegais.
Alguns exemplos:
- Compra da BDM International e alia-se, em 1992, aos franceses da Thomson-CSF para adquirir a a divisão aerospacial da LTV mas a operação foi reprovada pelo Congresso por razões de “segurança interna”; Carlucci virou-se para a Lorale Northrop, e adquiriram a LTV Aerospace, mais tarde Vought Aircraft, envolvida na fabricação dos bombardeiros B1 e B2;
- Via BDM International, a Vinnell, empresa com ligações à CIA, uma das principais fornecedoras de mercenários ao exército americano e aliados foi enquadrada nas forças armadas sauditas e na guarda pessoal ao rei Fahd e participou na primeira guerra do Golfo ao lado das tropas sauditas;
- Em 1997, face aos polémicos negócios da BDM e da Vinnell, a Carlyle vendeu-as logo que a consolidação da compra da United Defense Industries começou a dar frutos e garantiu os negócios com o Pentágono;
- No final dos anos 90, foram adquiridas empresas estratégicas como a Magnavox Electronic Systems, (imagens por radar), a DGE (mapas electrónicos para mísseis cruzeiro), Magnetek, IT Group e EG & G Technical Services (descontaminação nuclear, química e bacteriológica);
- A reunião entre George H. W. Bush e Shafiq Bin Laden, um dos 50 meio-irmãos de Osama, na manhã do dia 11 de Setembro de 2001, no hotel Ritz Carlton, em Washington, no âmbito de uma cimeira de investidores, lançou uma núvem de suspeições sobre as relações da Carlyle agravadas pela protecção dada a todos os membros da família que se encontravam no país e que foram autorizados a abandoná-lo, em aviões privados, quando o espaço aéreo ainda estava fechado. Oficialmente, os investimentos do Grupo Binladin na Carlyle terminaram em Outubro de 2001, mas muitos analistas e observadores duvidam, face ao peso que a família saudita tem no Golfo Pérsico.
A compra, em Setembro de 2007, pelo fundo soberano dos Emiratos Árabes Unidos (Mubadala Development Company) de uma participação institucional no grupo americano - 7,5% pelo preço de USD 1,35 mm/bi - dá razão aos cépticos.
- Em Janeiro de 2001, George Bush, filho, rompeu as negociações com a Coreia do Norte;
A Carlyle tinha e mantém interesses importantes, na Coreia do Sul, que receava uma reacção negativa de Pyongyang.
Em Junho de 2001, Washington retomou as discussões com os comunistas norte-coreanos;
- Falência do empresa financeira Carlyle Capital (USD 16,6 mm/bi) especializada em derivativos de crédito, em Março de 2008, situação que levou à contratação milionária de Olivier Sarkozy, especialista do sector;
- As brasas do último escândalo ainda não arrefeceram quando, em Março passado, o Procurador Geral de Nova Iorque, Andrew Cuomo, anunciou estar a investigar cinco casos de corrupção e subornos alegadamente pagos pelo Grupo Carlyle a gestores do fundo de pensões estadual;
MRA Alliance
Pedro Varanda de Castro, Consultor
Pois...
Eis o buraco que a CGD foi buscar.
Depois das eleições do sítio, o centrão virá dizer que o sítio é mesmo um sítio e que está falido.

Divulgue o seu blog!