terça-feira, abril 07, 2009

Demasiado estúpido

"O dr. Lopes da Mota não precisa de desmentir nada: tudo o que confirma é mais do que suficiente.

Como seria de esperar, o dr. Lopes da Mota desmentiu categoricamente qualquer tentativa de pressão sobre os dois magistrados que tutelam o caso Freeport: ao contrário do que tem sido noticiado, o presidente do Eurojust garante que nunca lhes sugeriu o arquivamento do processo – quando muito, pode ter dado uma opinião descontraída sobre a matéria – nem nunca se referiu aos perigos que corriam as suas carreiras, caso estes persistissem em não levar em conta a sua habilidosa sugestão – na pior das hipóteses, ofereceu-lhes um conselho amigo sobre a melhor forma de singrar na vida. Nada mais! E nada que justifique o alarido que se fez à volta deste incidente.

À boa maneira portuguesa, o dr. Lopes da Mota limita-se a confirmar o que lhe parece ser óbvio. É verdade que teve um almoço com os dois colegas que têm em mãos o processo, onde, naturalmente, no meio disto e daquilo, se falou da investigação em curso e do seu hipotético arquivamento. Pelo caminho, e como vinha a propósito, achou por bem lembrar-lhes que o engº Sócrates queria que o caso fosse rapidamente esclarecido. Dando mostras de uma incomensurável boa-fé, o dr. Lopes da Mota esclareceu posteriormente que se tinha limitado a dar conta de um facto que toda a gente conhecia, já que o primeiro--ministro, por diversas vezes, tinha verbalizado esse desejo – e já que esse desejo, como se depreende, deve ser uma espécie de farol, capaz de iluminar a investigação que os seus colegas levam a cabo.

Quanto aos ‘recados’ que o dr. Alberto Costa terá enviado aos dois magistrados, através da sua estimável pessoa, parecem-lhe ainda mais fáceis de explicar. Antes de mais, não houve ‘recados’. Houve, sim, uma infeliz coincidência temporal que fez com que ele tivesse estado com o ministro da Justiça pouco antes de se encontrar com os procuradores que estão à frente de uma investigação que envolve o nome do primeiro-ministro. Perante isto, o dr. Lopes da Mota não precisa de desmentir nada: tudo o que ele confirma é mais do que suficiente. Se o presidente do Eurojust, o homem que assegura a ligação entre a investigação portuguesa e a investigação inglesa, no caso Freeport, andou por aí, em conversinhas dúbias, saltitando alegremente do gabinete do dr. Alberto Costa para a mesa dos magistrados responsáveis pelo processo, então, das duas uma: ou o dr. Lopes da Mota se demite; ou o dr. Lopes da Mota é demitido. Independentemente de se saber se foi mandatado para o efeito ou se, como diz o procurador--geral da República, gosta apenas de "brincadeiras estúpidas" – o que, diga-se de passagem, parece demasiado estúpido.
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Constança Cunha e Sá

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