quarta-feira, abril 08, 2009

Paz e picaretas

"Manifestantes, anticapitalistas, activistas, críticos da globalização, ecologistas e anarquistas são meros exemplos dos termos com que a imprensa, caseira e internacional, define os bandos que tomaram de assalto a City londrina durante a cimeira do G20. Claro que a minha definição preferida é pacifistas, uma excelente escolha para designar delinquentes que destroem propriedade alheia, queimam efígies, incitam ao assassínio de banqueiros, gritam palavras de ódio e agridem polícias.

Segundo leio, a fúria dos bandos deveu-se à versão actual dos "quatro cavaleiros do Apocalipse": os crimes financeiros, a guerra, as convulsões imobiliárias e, evidentemente, as alterações climáticas. É natural. Sempre que o Instituto Nacional de Meteorologia informa que as temperaturas sobem 1,7 graus acima da média, eu próprio sinto um desejo súbito de sair por aí a partir montras.

É engraçado notar que os cavaleiros mudam consoante a época: a triste figura dos que os combatem não. Em Londres, os pacifistas que não se encontravam empenhados em atacar alguém desceram à retórica e explicaram que os líderes do G20 não oferecem soluções satisfatórias para nenhuma das desgraças acima. Pois não. A tendência em voga entre a maioria dos líderes consiste em aumentar indefinidamente a intervenção estatal, a pretexto das calamidades que o "liberalismo selvagem", aliás puramente imaginário, provocou. Sucede que os pacifistas não se contentam com mais estado: tirando os maluquinhos que, dentre eles, apenas gostam de partir coisas, a ideia é conseguir o estado todo, e a mandar em tudo. Dito de outra maneira, ao desastre parcial, eles preferem de longe o desastre completo. Dito ainda de outra maneira, a luta, aqui, não é contra o "liberalismo" da lenda, mas contra a democracia.

É, de resto, uma luta velha, que ganhou "argumentos" (digamos assim) e fôlego com a presente crise financeira e económica. Durante duas décadas, o colapso da URSS e adjacências moderou as ambições dessa gente e condenou-a a assistir, com fúria relativamente contida, ao triunfo da prosperidade capitalista, no Ocidente e não só. Hoje, quando essa prosperidade sofre um abalo que, sendo real, não lhe questiona a natureza, urge decretar o seu enterro e, de caminho, desenterrar os sonhos do passado. A "alternativa" dos pacifistas de Londres é a principal (e, durante décadas, a única) alternativa que o capitalismo conheceu: o totalitarismo socialista, se me permitem a redundância.

A seu favor, está o tempo decorrido desde a queda de muros diversos, que convida ao esquecimento de muitos e convida uns tantos desiludidos de então a regressarem à causa. Estes, no fundo, nunca se desiludiram com o horror do comunismo mas com a sua monumental derrota. O problema, portanto, foi de forma, não de conteúdo. Graças ao verniz do ambientalismo, da "exclusão social" e etc., a forma viu-se ligeiramente retocada: na cabeça desta burguesia ociosa e com nojo de si, o conteúdo continua exactamente o mesmo. E continua feio
."

Alberto Gonçalves

Divulgue o seu blog!