Sismos imperceptíveis
"Um terramoto mata perto de 300 pessoas em Itália e a primeira, e típica, preocupação dos nossos "media" é averiguar se não há portugueses entre as vítimas. A segunda preocupação é entregarem-se ao escândalo por Berlusconi ter pedido aos desalojados que se imaginassem no campismo.
É escusado insistir na infelicidade da frase, mesmo com a atenuante de o autor ser um septuagenário pequenino que, graças à medicina reconstrutiva e a sapatos de plataforma, se imagina George Clooney. O jornalismo caseiro não precisa de emigrar para se indignar com a aparente insensibilidade dos governantes ou a sua sincera idiotia. E nem é necessário comparar o discurso optimista em matéria económica dos senhores que nos governam com os dados reais de uma economia em frangalhos. Fiquemos pelas calamidades "naturais".
Por cá, a revelação de que a gripe do início do ano matou cerca de 1500 criaturas (segundo o Instituto Ricardo Jorge) suscitou ao secretário de Estado da Saúde o seguinte comentário: "a resposta à epidemia foi razoável". Não sei se uma resposta "fraquinha" se teria traduzido em cinco mil mortos, uma resposta "má" em dez mil, e uma resposta péssima na repetição da "espanhola" de 1918. Não sendo sismógrafo ou especialista em saúde pública, também não sei até que ponto as consequências de uma gripe são mais ou menos evitáveis que as consequências dos tremores de terra.
A questão é que a imprensa aflitíssima com Berlusconi ignorou generosamente o lapso do sr. secretário de Estado, embora este exprima a indiferença da tutela perante um sistema de Saúde que trata os pobres como bichos e, implicitamente, sugere aos restantes que se curem no "privado" ou na civilização. Além disso, qualquer leigo percebe que 300 é um número menor que 1500, ainda por cima 1500 portugueses, cuja morte, pelos vistos, só conta se acontecer no estrangeiro. No fundo, à semelhança da vida, mas esse é outro assunto."
Alberto Gonçalves
É escusado insistir na infelicidade da frase, mesmo com a atenuante de o autor ser um septuagenário pequenino que, graças à medicina reconstrutiva e a sapatos de plataforma, se imagina George Clooney. O jornalismo caseiro não precisa de emigrar para se indignar com a aparente insensibilidade dos governantes ou a sua sincera idiotia. E nem é necessário comparar o discurso optimista em matéria económica dos senhores que nos governam com os dados reais de uma economia em frangalhos. Fiquemos pelas calamidades "naturais".
Por cá, a revelação de que a gripe do início do ano matou cerca de 1500 criaturas (segundo o Instituto Ricardo Jorge) suscitou ao secretário de Estado da Saúde o seguinte comentário: "a resposta à epidemia foi razoável". Não sei se uma resposta "fraquinha" se teria traduzido em cinco mil mortos, uma resposta "má" em dez mil, e uma resposta péssima na repetição da "espanhola" de 1918. Não sendo sismógrafo ou especialista em saúde pública, também não sei até que ponto as consequências de uma gripe são mais ou menos evitáveis que as consequências dos tremores de terra.
A questão é que a imprensa aflitíssima com Berlusconi ignorou generosamente o lapso do sr. secretário de Estado, embora este exprima a indiferença da tutela perante um sistema de Saúde que trata os pobres como bichos e, implicitamente, sugere aos restantes que se curem no "privado" ou na civilização. Além disso, qualquer leigo percebe que 300 é um número menor que 1500, ainda por cima 1500 portugueses, cuja morte, pelos vistos, só conta se acontecer no estrangeiro. No fundo, à semelhança da vida, mas esse é outro assunto."
Alberto Gonçalves
1 Comments:
Por falar em "sismos" imperceptíveis, pior que a tão propalada "gripe das aves" (raras) está a «listeriose provocada pela bactéria Listeria monocytogenes. A doença transmite-se através dos alimentos e apresenta normalmente sintomas idênticos aos da gripe, como febre e dores de cabeça. A bactéria aloja-se no intestino, onde se reproduz, e entra no aparelho circulatório. Os alimentos mais vulneráveis ao contágio são produtos lácteos, carne crua ou mal passada, vegetais em decomposição. Na maior parte dos casos, a bactéria é destruída pelo sistema imunitário, mas pode tornar-se perigosa quando atinge pessoas cujas defesas imunitárias estão debilitadas – recém-nascidos, idosos e doentes. As grávidas também são um grupo de risco. Pode causar meningite e gastroenterites.» Mas em Portugal esta doença não é de declaração obrigatória. Só vai passar a ser para o ano!!! Porque será que não tem tido o mesmo tipo de propaganda que a "gripe das aves" ???
Mais aqui: http://www.netconsumo.com/2009/04/alimentos-com-listeria-encontrados-em.html
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