quarta-feira, maio 20, 2009

O muro e a desvergonha

"De visita à Terra Santa, e embora não com a simplicidade que as manchetes da imprensa sugerem, o Papa defendeu a criação de uma nação palestiniana. À primeira vista, o gesto apenas mostra que as posições da Igreja no Médio Oriente se flexibilizaram a ponto de o Vaticano já admitir estados que nem sequer existem: o reconhecimento oficial de Israel demorou 45 anos após a sua fundação.

À segunda vista, e adicionado à condenação do muro da Cisjordânia, o pedido de Bento XVI prova o que cada um quer que prove: as naturais cautelas com os cristãos da região, as sombras de anti-semitismo que eventualmente ainda pairam na Santa Sé, o sentido básico de diplomacia que incluiu igualmente a condenação do terrorismo e o diálogo ecuménico, etc.

O engraçado é que, convenientemente removidos os pormenores dos bombistas e do ecumenismo, alguns sectores da nossa opinião pública desataram a cantar improváveis hossanas ao Papa. Naturalmente, trata-se dos sectores mais empenhados na "questão palestiniana", em larga medida os mesmos que, há semanas, se serviam do preservativo para acusar Ratzinger de genocídio em África. Contradição? Nenhuma. Desde que Israel saia ensombrado da história, não há motivo para que indivíduos habituados a legitimar assassínios reais não consigam perdoar, uma ou outra ocasião, assassínios imaginários
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Alberto Gonçalves

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