quarta-feira, junho 24, 2009

Prioridades

"Há dias, celebrou-se a "semana gay" numa nação do Médio Oriente. Houve seminários internacionais, palestras, debates e, para os extrovertidos, desfiles recreativos em diversas cidades. O acontecimento, invulgar naquela área geográfica, é uma trivialidade na referida nação, e só foi possível porque, também de modo extraordinário para os padrões da região, essa nação, Israel, é um estado democrático.

Perante isto, seria de esperar dos activistas dos direitos civis relativa simpatia pelo que Israel significa. Inesperadamente, por exemplo em Portugal, a simpatia é escassa. Face a Israel, o único sentimento que muitos dos activistas revelam é aversão. Face à liberdade israelita, os activistas limitam-se a lembrar que o judaísmo ortodoxo condena a homossexualidade, embora não lembrem que uma condenação simbólica não é bem o mesmo que condenar homossexuais à morte, prática corrente no exacto Irão que inspira aos tais activistas a solidariedade que hoje se vê.

Recapitulemos. Uma paródia eleitoral, com candidatos fantoche e tudo, convenceu os ocidentais das "causas" de que o Irão é uma democracia. A seguir, os resultados da paródia convenceram-nos de que a democracia iraniana corre perigo e que é urgente apoiar, nem que seja pela Internet, o candidato "reformista". Não havendo nenhum, inventaram o sr. Mousavi, fundamentalista célebre, ex-primeiro-ministro, favorito de Khomeni e um possesso cujo currículo inclui, além do sangue de 30 mil dissidentes políticos, a perseguição de gays e minorias em geral.

Contas feitas, temos, nos blogues e nas colunas de opinião a que alguns ascenderam, imensos combatentes pela igualdade cívica dos homossexuais a aplaudir um dos homens que, no mundo e nas últimas décadas, mais contribuiu para a situação desgraçada em que tantos homossexuais vivem ou, com maior probabilidade, morrem. Sábado de tarde, os combatentes marcham em Lisboa contra a discriminação e a evocar os 40 anos dos confrontos de Stonewall, um bar gay nova-iorquino onde a polícia andou à bulha com umas dúzias de frequentadores. Sábado à noite, voltam aos blogues a exaltar Mousavi, o "reformista" que ajudou a tornar a discriminação lei e que, directa ou indirectamente, presidiu à prisão, tortura e execução de inúmeros homossexuais que escaparam à fúria das famílias.

Se calhar, as posições do "reformista" acerca do programa nuclear iraniano e da sonhada obliteração de Israel explicam o aparente paradoxo: a defesa dos gays tem prioridades, e os gays, coitados, não são uma delas
."

Alberto Gonçalves

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