Evitar confusões
"O Presidente da República acedeu aos pedidos de quatro dos cinco partidos e separou as datas das eleições legislativas e autárquicas. Para o PS, a separação exigia-se em nome da "clareza democrática", da "verdade democrática" e do "rigor das escolhas". O Bloco também referiu a "clareza democrática" e, com menor clareza, a "partidarização do efeito de contaminação". Para o PCP, marcar as eleições em simultâneo desvalorizaria ambas. Para o CDS, trata-se de "duas campanhas que não devem ser misturadas". Falando em nome próprio, o dr. Mário Soares resumiu: seria "uma confusão para os eleitores".
É interessante notar que as rebuscadas mesuras dedicadas pela classe política à democracia não se estendem aos cidadãos que a compõem e justificam. Se os partidos acham sagradas as instituições democráticas, tomam a população por um vastíssimo bando de tontos, incapaz de perceber a diferença entre os deputados da nação e os caciques da província. Muitas vezes, concedo, a distinção é difícil, para não dizer impossível, mas esse não é o ponto. O ponto é que, de acordo com os argumentos ouvidos por Cavaco Silva, a simultaneidade de "legislativas" e "autárquicas" arriscaria convencer alguns eleitores da Gafanha da Nazaré de que os autarcas indígenas ambicionavam formar Governo e o eng. Sócrates decidira tentar uma carreira na junta de freguesia lá da terra.
Pior que tudo, os partidos não se limitam a insultar as pessoas: torturam-nas sem piedade. Eleições afastadas significam campanhas prolongadas, ou seja, semanas e semanas de arruaças, perdão, arruadas e barulho em geral. A factura que isto representa no bolso dos contribuintes é realmente o mal menor: a respectiva sanidade mental é que não promete recuperação.
Entretanto, resta consolarmo-nos com a certeza de que teremos tempo para alcançar a complexidade dos programas nacionais e locais, que os profundos debates a realizar nas duas instâncias serão esclarecedores e que os transeuntes distinguirão perfeitamente entre o candidato a S. Bento que lhes oferece dois beijinhos e um porta-chaves e o candidato à câmara que, quinze dias depois, lhes oferece dois beijinhos e uma esferográfica."
Alberto Gonçalves
É interessante notar que as rebuscadas mesuras dedicadas pela classe política à democracia não se estendem aos cidadãos que a compõem e justificam. Se os partidos acham sagradas as instituições democráticas, tomam a população por um vastíssimo bando de tontos, incapaz de perceber a diferença entre os deputados da nação e os caciques da província. Muitas vezes, concedo, a distinção é difícil, para não dizer impossível, mas esse não é o ponto. O ponto é que, de acordo com os argumentos ouvidos por Cavaco Silva, a simultaneidade de "legislativas" e "autárquicas" arriscaria convencer alguns eleitores da Gafanha da Nazaré de que os autarcas indígenas ambicionavam formar Governo e o eng. Sócrates decidira tentar uma carreira na junta de freguesia lá da terra.
Pior que tudo, os partidos não se limitam a insultar as pessoas: torturam-nas sem piedade. Eleições afastadas significam campanhas prolongadas, ou seja, semanas e semanas de arruaças, perdão, arruadas e barulho em geral. A factura que isto representa no bolso dos contribuintes é realmente o mal menor: a respectiva sanidade mental é que não promete recuperação.
Entretanto, resta consolarmo-nos com a certeza de que teremos tempo para alcançar a complexidade dos programas nacionais e locais, que os profundos debates a realizar nas duas instâncias serão esclarecedores e que os transeuntes distinguirão perfeitamente entre o candidato a S. Bento que lhes oferece dois beijinhos e um porta-chaves e o candidato à câmara que, quinze dias depois, lhes oferece dois beijinhos e uma esferográfica."
Alberto Gonçalves
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