quarta-feira, agosto 26, 2009

‘Spice boys’

"Tenho saudades dos tempos em que o presidente norte-americano pensava que os talibãs eram uma banda pop.

Não por apreciar a ignorância de George Bush em matéria de política internacional, mas porque esse era um tempo de possibilidades, em que ainda se podiam evitar os erros magistrais cometidos na resposta ao 9/11. Se algumas decisões foram condicionadas pelas conjecturas estratégicas prevalecentes à época, outras requerem mais do que a vulgar ignorância como explicação. Por exemplo, a permissão dada pela CIA em Novembro de 2001 a um número indeterminado de aviões paquistaneses para aterrar durante a noite em Kunduz e retirar da cidade afegã, prestes a ser capturada pela Aliança do Norte, centenas de agentes paquistaneses, comandantes talibãs e da al Qaeda. A acção, conhecida como ‘Operation Evil Airlift' pelas forças especiais americanas, teve um custo humano e estratégico incalculável.

Em Descent Into Chaos (Nova Iorque, 2008) Ahmed Rashid argumenta que o envolvimento político e militar dos EUA e da NATO na Ásia central após 2001 é a história do fracasso do ‘nation-building', essencialmente por falta de investimento, mas ao criticar as insuficiências dos esforços ocidentais acaba inadvertidamente por construir um argumento persuasivo sobre a inexequibilidade da tarefa. A única opção razoável é a estabilização, o que pressupõe duas coisas: limpar a fossa de extremismo e violência em que o Paquistão se transformou e aumentar as tropas com capacidade efectiva de combate no Afeganistão.

O Paquistão tem de ser forçado a abandonar a doutrina que define como prioridade estratégica o estabelecimento de um governo islâmico no Afeganistão, para impedir a Índia de promover os seus interesses no território e assegurar uma base geográfica de recrutamento e treino de terroristas susceptíveis de desestabilizar a Caxemira indiana. A ausência de governo nos territórios tribais do noroeste do Paquistão facilita a acção terrorista e é uma consequência prática desta doutrina, bem como a proliferação das madrassas, os centros ideológicos do extremismo islâmico: em 1947 existiam 137 madrassas no Paquistão; actualmente são mais de 12000.

Os europeus têm de ser confrontados com o seu cinismo: a recusa franco-germânica de auxílio militar efectivo aos EUA para a estabilização do Afeganistão é inadmissível. No mínimo é necessário terminar com as ridículas restrições impostas às tropas europeias integradas na NATO. Por exemplo, os militares alemães estão impedidos de actuar depois de cair a noite e assistiram impávidos ao restabelecimento dos talibãs na província de Kunduz. Antes que esta coluna se perca em sugestões impróprias, limito-me a observar que a meticulosa auto-preservação das tropas germânicas só com grande esforço se distingue da cobardia. Se a ‘realpolitik' prosseguida por Obama é essencialmente a mesma de Bush é porque o que está em causa na Ásia central transcende as inclinações ideológicas, algo que os europeus tardam em compreender e vai faltando o tempo e a paciência para explicar outra vez
."

Fernando Gabriel

1 Comments:

Blogger Toupeira said...

O senhor Fernando emigre para os USA e peça ap preto claro que é presidente para o tornar americano ou lá o que é.
Tanta asneira junta só pode ser de encomenda, mas eu se fosse o patrão não lhe pagava um centimo americano.
A NATO não existe é um cadáver e a guerra no Afeganistão é uma forma de vender droga e pressionar os estados soberanos da Europa que rareiam.

Vã-se catar senhor Fernando.

quarta-feira, agosto 26, 2009  

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