sexta-feira, outubro 23, 2009

Nova crise no horizonte

"Os mercados globais de acções estão novamente em efervescência. À superfície, lembra os anos de 2003 e 2004, altura em que as bolhas nas acções, no crédito, no imobiliário e nas matérias-primas começaram a ganhar forma, alimentadas pela ausência de inflação e pelos níveis baixos das taxas de juro nominais.

A grande diferença é que a nova bolha vai rebentar mais cedo.

De que elementos dispomos para dizer que se trata de uma bolha? A valorização do mercado de acções pode ser medida de diversas formas, mas as duas medidas que mais aprecio são o CAPE - rácio preço/lucro ajustado por ciclo - e o Q, ou o rácio entre o valor de mercado do capital instalado e o custo de substituição do capital instalado. A primeira é da lavra de Robert Shiller, professor de Economia na Universidade de Yale, ao passo que a segunda foi teorizada pelo economista James Tobin.

Uma e outra medem coisas muito diferentes. No entanto, tendem ambas a concordar em relação ao ‘mispricing' do mercado. Em meados de Setembro, ambas apontavam para uma valorização excessiva dos mercados de acções americanos na ordem dos 35% a 40%. Os mercados registaram, desde então, uma subida superior à média móvel das receitas.

A nova bolha releva unicamente dos níveis extremamente baixos das taxas de juro nominais, os quais motivaram a tomada dos mais diversos activos de risco.
Sintomaticamente, os preços imobiliários voltaram a subir. Os bancos centrais, contrariamente ao que aconteceu há cinco anos, passaram a desempenhar um papel duplo, isto é, a garantir a estabilidade monetária e a estabilidade financeira. Ora, estas duas metas podem facilmente entrar em conflito. Na Europa, e em circunstâncias normais, o Banco Central Europeu (BCE) já teria aumentado as taxas de juro. A sua prudência visa apenas evitar danos no sistema bancário europeu, constantemente subcapitalizado e dependente do BCE.

Não se perspectiva um aumento significativo da inflação nos próximos 12 meses, porém, tudo pode mudar em 2010. Se isso acontecer, os bancos centrais poderão ser forçados a adoptar políticas monetárias mais agressivas num espaço de tempo relativamente curto. Um ‘boom' inflacionista poderá ser seguido de uma nova recessão, crise bancária e, quiçá, deflação. A inflação e a deflação não são cenários opostos e sim sequenciais.

A actual situação pode, no entanto, dar origem a dois cenários - ou à combinação dos dois. No primeiro caso, a saída dos bancos centrais vai provocar uma nova queda nos preços dos activos de risco. No segundo, os bancos centrais podem escolher dar prioridade à estabilidade financeira em detrimento da estabilidade dos preços. Um cenário que, em minha opinião, pode provocar a pior crise financeira de que há memória. Por outras palavras, o perigo existe mau grado a resposta dos bancos centrais
."

Wolfgang Münchau

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