sábado, outubro 31, 2009

Novas bolhas

"Existem algumas razões para a proliferação de bolhas, entre as quais a dimensão do sector financeiro, o problema das instituições demasiado grandes para falirem e a renovada sede dos bancos pelo risco.

Os governos não têm sabido lidar com estes aspectos, mas também não podemos esperar que os bancos centrais garantam uma cura para estes males, muito embora possam lidar com alguns dos sintomas. Isto porque os sintomas são igualmente importantes.

Alguns economistas continuam a mostrar-se desfavoráveis ao "rebentamento" das bolhas por parte dos bancos centrais sob o pretexto de a política monetária não poder controlar os preços ao consumidor e os preços dos activos utilizando apenas um instrumento, isto é, a taxa de juro a curto prazo. Seguem-se quatro propostas que têm subjacente o uso dos instrumentos existentes de uma forma mais flexível, bem como a criação de novos instrumentos.

A primeira pressupõe o uso de instrumentos regulatórios alternativos quando disponíveis. Nos países onde esta opção é viável, esses instrumentos poderiam, por exemplo, ser aplicados ao mercado imobiliário, na condição de se ajustar o "tecto" do rácio entre o valor do empréstimo e o valor do imóvel às condições de mercado.

A segunda proposta implica que os bancos centrais utilizem a margem de manobra existente na sua política monetária. Ou seja, não devem optar pela taxa de juro mais baixa para serem coerentes com a sua definição de estabilidade dos preços, mas escolher uma taxa de juro mais alta em caso de bolha.

A terceira requer que os bancos centrais complementem os seus modelos de previsão económica com uma análise das condições monetárias e financeiras, pelo facto de esses modelos não reflectirem choques financeiros nem bolhas.

Por último, é fundamental que haja coordenação entre os diversos bancos centrais. Embora cada um disponha de instrumentos para garantir a estabilidade dos preços na sua própria jurisdição, não podem esquecer que os preços dos activos tendem a correlacionar-se globalmente. O ideal seria concertarem medidas para darem um sinal mais forte.

Tenho consciência de que estas medidas não vão resolver o problema da instabilidade financeira e de que este só poderá ser solucionado através de uma reforma profunda do sector financeiro. No entanto, talvez seja melhor experimentar algumas das ferramentas referidas do que fingir que o problema vai resolver-se por si só.

Desconfio que já estamos perante novas bolhas nos mercados globais de acções e obrigações, e nalgumas secções do mercado de matérias-primas. Ora, essas bolhas poderão rebentar muito antes de a economia mundial recuperar da bolha mais recente. A meu ver, os bancos centrais deveriam rebentá-las antes que provoquem uma calamidade
."

Wolfgang Munchau

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