terça-feira, outubro 13, 2009

Regime bacoco

"As eleições legislativas foram há 15 dias e só hoje o senhor presidente relativo do Conselho vai ser indigitado pelo Presidente da República para formar Governo.

Desde o dia 27 de Setembro que toda a gente sabe quem ganhou as eleições com maioria relativa, toda a gente sabe que o partido do senhor presidente relativo do Conselho vai apresentar um Executivo minoritário sem acordos à esquerda ou à direita. Toda a gente sabe disto, mas só hoje se iniciará formalmente a formação do Governo, daqui a uns dias tomarão posse os senhores e senhoras que nos irão governar sabe-se lá por quanto tempo, segue-se a discussão do programa na Assembleia da República e só depois, finalmente, a máquina começará a carburar novamente. Pelo caminho, Cavaco Silva decidiu fazer uma ronda com os líderes partidários, a que se seguiu uma nova peregrinação a Belém das direcções dos partidos representados na Assembleia da República.

Este ritual, em pleno século XXI, é bacoco, irracional e estúpido, mas está de acordo com a natureza do regime e com a qualidade dos agentes políticos deste sítio manhoso, pobre, deprimido, cheio de larápios, recheado de mentirosos e obviamente cada vez mais mal frequentado.

Há anos e anos que se justifica uma mudança das leis, uma simplificação dos processos, uma nova forma de agilizar todos os formalismos dos actos eleitorais e da formação dos executivos. Mas não. Ano após ano, as leis vão ficando cada vez mais podres, nauseabundas, mas todos parecem sentir-se bem neste pântano sem remédio e cada vez mais mal cheiroso. E tudo isto se passa numa altura em que o sítio caminha alegremente para o abismo e os mantos diáfanos da fantasia já não conseguem esconder uma realidade triste e deprimente.

O sítio está mais pobre, está mais corrupto e em 2007, o ano de todas as glórias do senhor presidente relativo do Conselho, com o PIB a crescer e o défice a registar valores históricos, eis que o Índice de De-senvolvimento Humano das Nações Unidas vem revelar que o Produto Interno Bruto per capita afasta-se cada vez da média da União Europeia e do conjunto de países da OCDE. Mas o baile continua, e depois das Legislativas e das Autárquicas seguem-se as comemorações dos 100 anos da República, 64 dos quais em ditadura e 36 em democracia, e as Presidenciais de 2011.

A festa, como se vê, promete. Com muitos foguetes, muitos bailes e muitas múmias que só nos podem prometer a cova
."

António Ribeiro Ferreira

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