sexta-feira, novembro 13, 2009

E não se podem fechar as fronteiras?

"Parece que muitos cidadãos estrangeiros, sobretudo brasileiros, começam a deixar Portugal. Trata-se de uma boa notícia para o Partido Nacional Renovador, que se indigna quando os imigrantes cá chegam, alegadamente para tirar o emprego dos portugueses e deixar o país de rastos. Eu detesto os imigrantes quando de cá saem, sob o pretexto de que não arranjam emprego nenhum e encontram o país de rastos.

Além de arrogante, a desistência é um sinal de ignorância. A que título esses sujeitos insinuam que Portugal não está bem e que são capazes de arranjar melhor, inclusive no Brasil? Decerto não ouvem o dr. Mário Soares, que regularmente elogia as maravilhas do "seu" regime e o próspero país em que, graças a ele, presume-se, hoje temos a sorte de habitar. Decerto não ouvem o eng. Sócrates, que cada dia nos empurra mais um pedacinho rumo à modernidade. E decerto não ouvem os comentadores do optimismo, abismados com o fulgor voluntarista dos senhores que nos tutelam. Os imigrantes não ouvem ninguém, vão-se embora e pronto. Malcriados por malcriados, antes a Maitê Proença.

Há por aqui uma ligeiríssima crise? Admitamos, por formalismo teórico, que sim. Mas não saberão esses brasileiros (e ucranianos, cabo-verdianos, chineses e o que calha) que a circunstância de a crise ser global torna a fuga inútil? E que o facto de o nosso abençoado Governo até nos ter poupado às piores consequências da crise global torna a fuga perigosa? O irritante é que, ao contrário do que se faz aos pessimistas indígenas, não podemos acusar estrangeiros de falta de patriotismo. E se os acusamos de outra coisa qualquer, eles, lá longe, já não ouvem. Realmente, "não ouvir" é o lema dos que partem. O dos que ficam é não ver
."

Alberto Gonçalves

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