Natal
"O dr. Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, foi uma personagem que pelas piores razões será provavelmente inesquecível.
Da leitura dos seus diários, que foram preservados, compreende-se que estamos perante um homem culto, que escreve bem, que pensa com argúcia e que é criativo. Não era um boçal ou um primitivo. Em algumas passagens chega a exibir um inesperado sentido se humor, em alguns casos um humor cruel, mas noutros um humor quase inocente.
O que é fascinante em Goebbels não é no entanto a sua capacidade literária ou o seu valor como fonte histórica. É a capacidade de lidar com aquilo que se passa à sua volta, de apreciar acontecimentos ou de congeminar soluções, sem entrar em linha de conta com qualquer limitação de ordem moral, por mais básica que fosse.
O poder é tudo, e todas as concessões que se façam a valores de humanidade não passam de estúpidas dificuldades que se antepõem no caminho. Goebbels chega a propor que se proceda à liquidação em massa dos prisioneiros de guerra como forma de impedir a tentação da rendição alemã, a qual deixaria de ser atraente face aos níveis de ódio que se gerariam. Era a guerra total, que pregou por todo lado até ao fim.
Apenas invoca critérios morais quando é necessário reforçar críticas sobre terceiros, isto é, como acto de propaganda, nunca como limitação aos seus próprios actos. Os italianos são traidores sem princípios quando em 1943 mudam de campo, os alemães heróis ao invadirem de surpresa a União Soviética em 1941, com quem tinham assinado um tratado de não agressão, causando milhões de mortos. Um homem destes só podia ter existido num regime sem moral. E o fascínio que ele desperta é o fascínio que desperta a aberração do Mal.
Dou por mim a pensar nisto tudo ao passarmos a quadra do Natal, festa essencial do cristianismo e dos valores que veio trazer à humanidade. Independentemente da questão religiosa, questão íntima para a qual muitos não têm resposta, ficam os princípios de humanidade que há dois mil anos um pequeno grupo de gente pobre foi divulgando.
Portugal nasceu como país há séculos sob a égide do cristianismo. É essa a nossa origem e Portugal foi feito assim. Os valores que nos moldaram são valores hoje universais. Podemos portanto tranquilamente festejar o Natal de Cristo, como uma festa nacional, que nos une, sem com isso ofender por um momento que seja a liberdade religiosa de que nos orgulhamos e sem que o Estado por um segundo perca a laicidade a que está obrigado."
Joaquim Ferreira do Amaral
Da leitura dos seus diários, que foram preservados, compreende-se que estamos perante um homem culto, que escreve bem, que pensa com argúcia e que é criativo. Não era um boçal ou um primitivo. Em algumas passagens chega a exibir um inesperado sentido se humor, em alguns casos um humor cruel, mas noutros um humor quase inocente.
O que é fascinante em Goebbels não é no entanto a sua capacidade literária ou o seu valor como fonte histórica. É a capacidade de lidar com aquilo que se passa à sua volta, de apreciar acontecimentos ou de congeminar soluções, sem entrar em linha de conta com qualquer limitação de ordem moral, por mais básica que fosse.
O poder é tudo, e todas as concessões que se façam a valores de humanidade não passam de estúpidas dificuldades que se antepõem no caminho. Goebbels chega a propor que se proceda à liquidação em massa dos prisioneiros de guerra como forma de impedir a tentação da rendição alemã, a qual deixaria de ser atraente face aos níveis de ódio que se gerariam. Era a guerra total, que pregou por todo lado até ao fim.
Apenas invoca critérios morais quando é necessário reforçar críticas sobre terceiros, isto é, como acto de propaganda, nunca como limitação aos seus próprios actos. Os italianos são traidores sem princípios quando em 1943 mudam de campo, os alemães heróis ao invadirem de surpresa a União Soviética em 1941, com quem tinham assinado um tratado de não agressão, causando milhões de mortos. Um homem destes só podia ter existido num regime sem moral. E o fascínio que ele desperta é o fascínio que desperta a aberração do Mal.
Dou por mim a pensar nisto tudo ao passarmos a quadra do Natal, festa essencial do cristianismo e dos valores que veio trazer à humanidade. Independentemente da questão religiosa, questão íntima para a qual muitos não têm resposta, ficam os princípios de humanidade que há dois mil anos um pequeno grupo de gente pobre foi divulgando.
Portugal nasceu como país há séculos sob a égide do cristianismo. É essa a nossa origem e Portugal foi feito assim. Os valores que nos moldaram são valores hoje universais. Podemos portanto tranquilamente festejar o Natal de Cristo, como uma festa nacional, que nos une, sem com isso ofender por um momento que seja a liberdade religiosa de que nos orgulhamos e sem que o Estado por um segundo perca a laicidade a que está obrigado."
Joaquim Ferreira do Amaral
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