terça-feira, dezembro 01, 2009

Sentido proibido

"Há três questões que, em momentos de particular angústia, qualquer ser humano já se colocou. Para que serve a dra. Edite Estrela? Para que serve o Parlamento Europeu? Que sentido tem a vida? A resposta à primeira questão é: para propor em Estrasburgo uma "resolução" que proíba o fumo em todos os "espaços públicos fechados" da União. A resposta à segunda: para aprovar com absolutíssima maioria a "resolução". A resposta à terceira: aparentemente, nenhum.

Na prática, e se aplicada, a "resolução" acabará com a permissão de fumar nos escassos estabelecimentos de hotelaria e similares que a mantêm. Apropriadamente, o PE chama "públicos" a espaços que têm dono e nos quais o interesse do dono é irrelevante face à voracidade normativa de umas centenas de complexados. Sob o argumento da saúde, cumpre-se o verdadeiro propósito dos senhores eurodeputados: mostrar quem manda. As leis em vigor na matéria ainda concedem a proprietários, funcionários e clientes uma margem de escolha que a burocracia europeia não tolera. É preciso uma lei que remova aos cidadãos os últimos resíduos de autonomia, incluindo sobre aquilo que antigamente se chamava a sua existência, hoje um conceito a pedir aspas.

Porém, no tabaco e no resto, o extraordinário não é que os detentores do poder pretendam aumentá-lo, mas que os alvos do poder celebrem cada aperto na trela que os limita. De certeza que milhões de cidadãos comuns defenderão com zelo a abolição total do fumo, sem perceber que o que está em causa é o princípio e não a medida. Ou, o que é mais curioso, percebendo muito bem. No fundo é isto: há demasiado masoquismo colectivo, demasiada gente que gosta de obedecer, demasiada gente que acolhe em agradecido transe todas as interdições que lhes atiram para cima. Em contrapartida, são poucos a preferir a interdição da dra. Edite e do PE, ou qualquer coisinha que desse sentido a qualquer coisinha
."

Alberto Gonçalves

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