A sobrevivência
"Para derrotar os seus adversários, o pugilista Muhammad Ali usava um princípio muito simples: flutua como uma borboleta, pica como uma abelha. Portugal, claro, não segue esta táctica: flutua como um elefante e pica como um periquito. Os resultados, testados localmente nos últimos séculos, estão à vista. Agora dizem-nos que o País corre o risco de "morte lenta". Isto é, todos dizem que vamos agonizar com dores intermináveis até ao dia do juízo final. Não parece que isso amedronte excessivamente os portugueses, seja os seus políticos, os seus empresários, os seus cidadãos cumpridores do imposto ou, mesmo, os seus mendigos. Quando, há alguns anos, li a correspondência entre um banco que tradicionalmente nos emprestava dinheiro quando estávamos à beira da ruína, o Barings, e o Estado português, a conclusão dos ingleses era só uma: eles pagam tarde, mas pagam. Normalmente utilizávamos mesmo a táctica do português comum: tem a casa penhorada ao banco mas acredita que ela é sua. No caso pedíamos um empréstimo para pagar o anterior. Nunca aprendemos a lição mais simples da história: o crescimento é o melhor antídoto para a dívida. Vivemos sempre como se ela não existisse ou alguém a fosse pagar por nós. Portugal sempre considerou que a dívida era um derivado dos doces conventuais. Devoramo-los e dormitamos. À espera que alguém nos desperte com nova ameaça de morte iminente. PS e PSD, amedrontados, podem fazer com que a dívida diminua à conta de mais impostos. Sempre foi assim. Este é o País da dívida e dos impostos. Dificilmente mudará. "
Fernando Sobral
Fernando Sobral
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