O "Exame Prévio" o lápis azul e a voltas dos coronéis estúpidos do dito...

Um título dedicado a uma pessoa que prezo e que me disse que não gostava de política.

Eu também não, desprezo-a mesmo e odeio os políticos e a política do depois de Abril, porque não me lembro de nenhum e nenhuma séria.

Lembro as palavras de um general, que me dizia há uns anos, que o que mais temia, era a desobediência civil e nesses tempos as coisas não se assemelhavam à tempestade que se aproxima e às nuvens que cobrem esta nossa sociedade em desagregação por corrosão dos pilares.

Dito isto, volto a uns pequenos pensamentos dedicados aos meus amigos que não gostam de política, porque, em verdade lhes digo, não vou falar de tal coisa.

Hoje vou falar sobre uma parte de um obra prima de Dostoievski, "Os Irmãos Karamazov", na parábola escrita sob a forma de poema, por Ivan Karamazov e que este recita ao seu irmão Aliocha. Jesus regressa ao mundo nos tempos da Inquisição espanhola. Embora tenha vindo discretamente, e fora do tempo, sem se mostrar, não se passa muito tempo até ser reconhecido pelo povo que lhe pede milagres a que Jesus na Sua Infinita Misericórdia e bondade acede e logo, devido ao tumulto provocado, é mandado prender pelo Grande Inquisidor.

Fechado numa cela do velho paço da Santa Inquisição, é interrogado, mas nenhum palavra lhe sai da boca.

O Grande Inquisidor explica a Jesus que a humanidade é demasiado fraca para suportar a dádiva da liberdade. Não procura a liberdade, mas pão - não o pão celeste prometido por Jesus, mas o comum pão terreno. As pessoas estarão prontas a adorar quem quer que lhes dê pão, necessitando assim, que os seus governantes sejam deuses. Assim, o velho inquisidor explica a Jesus que os seus ensinamentos foram corrigidos por forma a adaptar-se à humanidade tal como ela é na realidade : " Corrigimos a vossa obra e fizemo-la assentar no milagre, no mistério e na autoridade. E os homens regojizaram-se por serem de novo conduzidos como rebanhos e por essa terrível dádiva que lhes causava tanto sofrimento lhes ter sido enfim tirada dos corações."

A verdade que Dostoievski põe na boca do Grande Inquisidor é que a humanidade nunca procurou a liberdade, nem nunca o fará.

Trocou assim a pesada cruz de a suportar ( a liberdade), colocando-a aos pés do Grande Inquisidor.

Este, compromete-se a salvar os seres humanos da " grande ansiedade, e da agonia terrível que sofrem no presente , tendo que decidir livremente por si próprios. E todos serão felizes, todos esses milhões de criaturas, à excepção dos cem mil que os terão de governar. Porque só nós, nós que temos o mistério à nossa guarda, seremos infelizes."

Nesta parábola por muitos interpretada e que mostra o génio deste grande escritor, que nos fala na natureza humana, como poucos, leva-nos a pensar que não existem os Grandes Inquisidores, como é óbvio, pois teriam de ser santos que dedicassem as suas vidas para evitar que a humanidade fosse esmagada pela verdade.

Ao contrário de muitos afirmo que estes defensores "dos segredos para o bem comum", são humanos e muito piores que a personagem do Grande Inquisidor, porque não são personagens de parábola, são reais, são seres sedentos de vingança, dementes fanatizados ou carreiristas timoratos.