Finalmente, oposição?
"A vitória de Pedro Passos Coelho não deixa dúvidas no PSD, deixa esperanças. O partido já lambe os beiços quando olha para o trono onde se senta Sócrates, supondo que controla o calendário da sua queda: em 2010 parece que já não apetece, em 2011 depois das presidenciais é garantido. Assim dizem. Assim pensam. Mas a política não se faz em piloto automático.
O líder já ganhou o PSD, o PSD ainda não ganhou o líder. Pedro Passos Coelho teve uma vitória arrasadora, o que lhe dá tempo para se impor. Mas não tardará muito até que seja necessário mostrar o que vale. Começando pela economia. Pelo PEC.
A moção de apoio ao Programa de Estabilidade e Crescimento, da semana passada, é coisa de político: para parecer em vez de ser. Mesmo que tivesse sido aprovada por aclamação, a moção era vazia de conteúdo. Porque será preciso votar medida a medida no Parlamento. O aumento de impostos. O corte nas deduções fiscais. A redução dos apoios sociais. A alteração na idade de reforma. Em cada um desses momentos veremos o que faz o PSD: se faz do impopular PEC o trampolim para conquistar a sua própria popularidade, dizimando o seu conteúdo e o Governo que o propôs; ou se vai viabilizando as medidas, mesmo com mola no nariz, para o necessário seja feito e para que o estrago social seja assumido pelo PS.
O PEC é um bom documento de medidas más. Há outras formas de atingir os mesmos fins mas todas são dolorosas. Sem uma boa execução de muitas medidas do PEC, Portugal não sai da espiral viciosa que nos arrasta para o fundo do mar. Saber de quem é a culpa do nosso descalabro pode vir depois de sair dele. Até a Grécia é ajudada pelos alemães, que têm muito menos a ver com Esparta que o PSD tem com esta urgência de ser espartano.
Pedro Passos Coelho é a esperança, legitimada, do PSD sair de um longo período de autodestruição. E do país voltar a ter Oposição, após um interregno demasiado longo, desde o Verão, quando Manuela Ferreira Leite passou a ser o corpo que aquecia a cadeira do seu sucessor.
O que Passos Coelho tem de bom e tem de duvidoso está dito. O seu discurso liberal, que os leitores do Negócios puderam ler nas suas colunas mensais no último ano, é sedutor para a Direita mas muito mais fácil de enunciar do que de aplicar. O seu discurso, só agora terá adversários e então se verá se Passos Coelho é o anti-Sócrates ou se é o outro Sócrates. Mas, sobretudo, Passos Coelho precisa de mostrar que é o contrário do homem do "Monstrengo" de Pessoa, que ali ao leme não é mais do que ele, não é presa nas garras dos falcões do partido que o lançaram.
Antes de querer ser governo, o PSD tem de querer ser Oposição. Só assim fará bem uma coisa e merecerá ser a outra. De outra forma, terá uma grande desilusão. Em 2010 parece que já não apetece, em 2011 depois das presidenciais é garantido. "
Pedro Santos Guerreiro
O líder já ganhou o PSD, o PSD ainda não ganhou o líder. Pedro Passos Coelho teve uma vitória arrasadora, o que lhe dá tempo para se impor. Mas não tardará muito até que seja necessário mostrar o que vale. Começando pela economia. Pelo PEC.
A moção de apoio ao Programa de Estabilidade e Crescimento, da semana passada, é coisa de político: para parecer em vez de ser. Mesmo que tivesse sido aprovada por aclamação, a moção era vazia de conteúdo. Porque será preciso votar medida a medida no Parlamento. O aumento de impostos. O corte nas deduções fiscais. A redução dos apoios sociais. A alteração na idade de reforma. Em cada um desses momentos veremos o que faz o PSD: se faz do impopular PEC o trampolim para conquistar a sua própria popularidade, dizimando o seu conteúdo e o Governo que o propôs; ou se vai viabilizando as medidas, mesmo com mola no nariz, para o necessário seja feito e para que o estrago social seja assumido pelo PS.
O PEC é um bom documento de medidas más. Há outras formas de atingir os mesmos fins mas todas são dolorosas. Sem uma boa execução de muitas medidas do PEC, Portugal não sai da espiral viciosa que nos arrasta para o fundo do mar. Saber de quem é a culpa do nosso descalabro pode vir depois de sair dele. Até a Grécia é ajudada pelos alemães, que têm muito menos a ver com Esparta que o PSD tem com esta urgência de ser espartano.
Pedro Passos Coelho é a esperança, legitimada, do PSD sair de um longo período de autodestruição. E do país voltar a ter Oposição, após um interregno demasiado longo, desde o Verão, quando Manuela Ferreira Leite passou a ser o corpo que aquecia a cadeira do seu sucessor.
O que Passos Coelho tem de bom e tem de duvidoso está dito. O seu discurso liberal, que os leitores do Negócios puderam ler nas suas colunas mensais no último ano, é sedutor para a Direita mas muito mais fácil de enunciar do que de aplicar. O seu discurso, só agora terá adversários e então se verá se Passos Coelho é o anti-Sócrates ou se é o outro Sócrates. Mas, sobretudo, Passos Coelho precisa de mostrar que é o contrário do homem do "Monstrengo" de Pessoa, que ali ao leme não é mais do que ele, não é presa nas garras dos falcões do partido que o lançaram.
Antes de querer ser governo, o PSD tem de querer ser Oposição. Só assim fará bem uma coisa e merecerá ser a outra. De outra forma, terá uma grande desilusão. Em 2010 parece que já não apetece, em 2011 depois das presidenciais é garantido. "
Pedro Santos Guerreiro
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